Com o início do outono no Hemisfério Norte, aumenta o clima de guerra entre vizinhos na Alemanha. Não importa a cidade em que vivem, os moradores brigam entre si por motivos inimagináveis para um brasileiro: de qual casa vem as centenas de folhas caídas na rua? E quem vai limpar? Com o fim do verão europeu, quando todos retornam depois das férias, os tribunais alemães ainda estão sobrecarregados com disputas que incluem se o vizinho pode ou não lotar seu quintal com anões de jardim. Mania alemã, os seres feitos de terracota são polêmicos para quem gosta, tradicionais objetos de decoração; para quem detesta, símbolo de mau gosto. Casas cheias de anões são motivo de briga por enfear a vizinhança.
Outros temas pelos quais moradores entram em pé de guerra incluem cães que latem demais; crianças que gritam e até churrasqueiras que soltam fumaça em excesso.
Para dar mais tempo aos juízes para cuidarem dos criminosos de verdade, o Ministério da Justiça introduziu a figura do mediador. Ele ajuda os dois lados a resolver suas diferenças sem precisar recorrer ao tribunal. Dos 5 mil casos já mediados de janeiro para cá, apenas 30% não tiveram solução e foram parar na Justiça.
As brigas mais graves fazem a festa dos tabloides e algumas até rendem prisão após um lado cometer algum crime. Foi o caso do ex-vereador Klaus Albert, 52 anos, de Schonungen, na Baviera, condenado a quatro anos e meio de detenção por ter atacado, com um machado, o vizinho Holger Harloff, 43 anos. A guerra começou por causa de uma bobagem. Os dois eram amigos, e Harloff resolveu construir uma casa ao lado da de Albert.
"Éramos muito próximos. Aí ele começou a reclamar da fumaça da minha churrasqueira e a queimar pneus em seu jardim para que o cheiro contaminasse meu churrasco", conta Harloff. Em 2014, quando Albert sair da prisão, Harloff pretende estar longe da vizinhança. "Vou vender a casa e me mudar para outro país. Não acho que a Justiça conseguirá me proteger desse maluco."
Ex-ministro
Outro caso famoso envolve Markus Meckel, o último ministro do Exterior da República Democrática Alemã (RDA), extinta com a reunificação de 1990. Durante dez anos, ele viveu em clima de acusações mútuas com a família vizinha formada pela condessa Von Armin e sua filha Silke, que processaram o ex-ministro acusando-o de ter danificado a cerca da casa delas. Meckel chegou a ser agredido fisicamente, mais de uma vez, pelas vizinhas, com quem acabou chegando a um acordo tardio. Ele conta, no entanto, que o caso o abalou tanto que prejudicou sua carreira política e ele não conseguiu se eleger deputado. Além disso, abandonou Mahlendorf, a cidade a 50 minutos de Berlim onde morava.
Um motivo bem mais banal foi o que levou Hildegard Wiesenbauer, de Deggendorf, a brigar com uma vizinha, que instalou no jardim um grupo de quatro anões. Três eram bem comportados um deles até lia um livro. O quarto, porém, tinha uma das mãos no bolso e a outra fazendo um gesto obsceno. Hildegard moveu uma ação que terminou no Tribunal de Nuremberg, a principal cidade da região. A mulher foi obrigada a retirar o anão malcomportado do quintal, mas Hildegard precisou aceitar os outros três.
Conhecidos como "gartenzwerge", os enfeites dividem opiniões. Foram criados em 1874 por Philipp Gribel na pequena cidade de Gräfenrode, Turíngia. "Eles simbolizam a dedicação ao trabalho dos nossos mineiros da Turíngia", explica Reinhard Griebel, bisneto de Philipp, até hoje dono da firma que herdou.
Depois da Segunda Guerra Mundial, a Turíngia ficou na região atrás da Cortina de Ferro, no leste alemão. Mas nem o comunismo foi bastante para derrotar os anões. Pelo contrário, as figuras de Gräfenrode passaram a ser o principal produto de exportação da região, decorando jardins também do lado ocidental e em países como a Suécia, onde também são extremamente populares.
Interatividade
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