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O presidente da Colômbia, Gustavo Petro, durante uma solenidade de condecoração de militares e indígenas em junho
O presidente da Colômbia, Gustavo Petro, durante uma solenidade de condecoração de militares e indígenas em junho| Foto: EFE/Mauricio Dueñas Castañeda

Um relatório divulgado na última terça-feira (4) pelo Departamento Administrativo Nacional de Estatística da Colômbia (Dane), junto da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO, na sigla em inglês), apontou que cerca de um terço da população da Colômbia vive atualmente sob insegurança alimentar grave ou moderada.

O relatório é baseado em dados obtidos no decorrer de 2022 e também aponta que 28% da população colombiana teve que diminuir em algum momento a quantidade e a qualidade dos alimentos que consumiam diariamente por causa do aumento dos preços ou pela falta de acesso.

“Em uma situação de crise econômica, onde as pessoas têm pouca capacidade de compra, os primeiros a serem reduzidos em quantidade e qualidade são os alimentos", explicou Jhenifer Mojica, ministra da Agricultura da Colômbia, durante a apresentação do relatório.

Ela alegou que há um desafio logístico para fazer com que os alimentos cheguem à população em "esquemas de comércio diferentes dos que temos hoje", através, por exemplo, de "esquemas de comércio curto de comercialização, compras públicas", mas que isso "não pode ser totalmente regulado, pois teria efeitos inesperados que resultariam em uma maior inflação nos alimentos”. A ministra afirmou ainda que apenas uma minoria da população do país tem atualmente garantida sua alimentação diária.

O relatório divulgado na terça foi baseado na Escala de Experiência de Insegurança Alimentar (Fies, sigla em inglês), que analisa a capacidade das pessoas de ter acesso à alimentação regular e permite identificar os diferentes graus de insegurança alimentar (moderada, severa ou grave).

Ainda segundo informações do levantamento, as famílias de La Guajira, que fica na região do Caribe colombiano, são as que têm os maiores problemas para se alimentar no país. A insegurança alimentar moderada ou grave alcança cerca de 53,1% das pessoas que moram na região. Em seguida, estão os departamentos de Chocó, no oeste (50,6%), Cauca, no sudoeste (45,4%), Nariño, no oeste (43,9%), e Córdoba, que também fica no Caribe colombiano (41,4%).

Por outro lado, os departamentos com menor prevalência são os de Bogotá, capital do país (15,6%), Quindío (21%), Risaralda (21,3%), Caldas (22,2%) – os três localizados na região centro-oeste - e Antioquia, no noroeste do país (22,4%).

O relatório mostrou também que a insegurança alimentar afeta mais os lares rurais da Colômbia que os urbanos, com uma diferença que chega a 18 pontos percentuais. Além disso, ela é maior nos lares chefiados por mulheres, por pessoas sem educação formal ou com baixo nível educacional, por pessoas desempregadas ou subempregadas e por indígenas e negros.

Lares mal estruturados, localizados em regiões de conflito do país (onde atuam guerrilhas e organizações criminosas), e com crianças menores de cinco anos também são fortemente afetados pela falta de alimentação regular.

Os dados relacionados à insegurança alimentar na Colômbia podem servir para a definição de políticas públicas nacionais e locais que ajudem a mitigar o fenômeno. A FAO destacou que abordar a segurança alimentar é essencial para o desenvolvimento sustentável.

“A Colômbia tem todo o potencial para produzir os alimentos de que precisa e garantir a segurança alimentar [da população]. Com exceção de alguns desafios relacionados ao milho e à soja, podemos ser autossuficientes em relação ao restante”, observou Mojica.

A ministra seguiu afirmando que “o problema [que a Colômbia enfrenta nesse momento] é de distribuição e comercialização [dos alimentos]. Precisamos abordar a questão do milho para reduzir o preço das proteínas como frango, carne ou porco”.

Novos dados em meio a escândalos

Os novos dados sobre a insegurança alimentar na Colômbia são apresentados no momento em que o governo de Gustavo Petro enfrenta sua maior crise política.

Primeiro presidente colombiano de esquerda, Petro vê nesse momento seu governo ser alvo de denúncias sobre irregularidades envolvendo a campanha eleitoral de 2022, que inclui até um possível financiamento do regime venezuelano de Nicolás Maduro.

O escândalo, que atingiu também um embaixador de seu governo e a chefe de seu gabinete presidencial, fez com que a confiança da população no governo diminuísse drasticamente. O presidente atualmente está com uma desaprovação alta - 59,4%, de acordo com a última pesquisa divulgada - e também com uma oposição fortalecida no parlamento.

Desde a sua chegada à presidência, em agosto de 2022, Petro vem prometendo através de discursos criar ou viabilizar medidas para tentar aumentar a produção de alimentos, baratear o custo e democratizar o acesso em todo país, mas na prática pouco tem feito.

Em fevereiro deste ano, dados publicados por outra agência da ONU, o Programa Mundial de Alimentos (PMA), por meio da Avaliação de Segurança Alimentar, apontaram que 15,5 milhões de pessoas no país estavam em situação de insegurança alimentar moderada e grave, número que representa cerca de 30% da população da Colômbia.

Já no começo deste ano, a Defensoria do Povo da Colômbia afirmou que cerca de 22 mil crianças colombianas sofrem de desnutrição aguda, sendo a maior parte delas moradoras de Bogotá. Ainda de acordo com o órgão, aproximadamente 40% da população colombiana atualmente vive na pobreza, 11% encara o desemprego e 58% da população sobrevive através da informalidade.

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