A falta de comida em Mogadício, na Somália, que nos últimos dois meses recebeu 100 mil refugiados em busca de abrigo da guerra e da seca, teve como consequência saques e conflitos entre a população afetada. O relato foi feito ontem pelo Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur).
"Nossos colegas veem o desespero das pessoas deslocadas e famintas, que atacam umas às outras para conseguir a comida distribuída pelas ONG locais", afirmou em Genebra a porta-voz do Acnur, Vivian Tan.
Segundo a organização, a comida que foi possível levar é insuficiente, o que causou "graves tumultos e até alguns atos de saque e pilhagem".
Vivian estimou em 100 mil o número de pessoas que chegaram à capital desde junho. Somente neste mês, 40 mil refugiados da fome buscaram ajuda na capital somali e mais 30 mil foram a acampamentos a cerca de 50 km da cidade.
Muitos deslocados morrem pelas estradas. As mães são forçadas a abandonar seus filhos mortos ou à beira da morte, relataram ontem funcionários dos serviços de ajuda adas Nações Unidas.
O principal destino é em Badbado, onde vivem 28 mil pessoas. Os refugiados também buscam a fronteira com o Quênia, onde fica o acampamento de Dadaab, o maior campo de refugiados do mundo, com mais de 380 mil pessoas.
O Acnur também alertou sobre a situação nos abrigos de Dollo Ado, na fronteira sudoeste com a Etiópia, onde "uma em cada três crianças menores de 5 anos que chegam têm que ser tratadas com urgência devido à sua severa desnutrição".
A ONU reforçou hoje o apelo a ajuda financeira para operação de emergência que necessita de US$ 2 bilhões, dos quais até agora só se recebeu a metade.
FMI
A diretora-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Christine Lagarde, disse ontem que a instituição está pronta para ajudar as nações no Chifre da África que enfrentam "potencialmente a pior crise de segurança alimentar seis décadas".
O Banco Mundial informou na segunda-feira, antes de uma cúpula emergencial sobre a crise, que fornecerá mais de US$ 500 milhões para assistir as vítimas da estiagem, além dos US$ 12 milhões em socorro imediato aos mais gravemente afetados pela crise.
A ONU prevê que as condições se deteriorem ainda mais nos próximos meses. "Alívio imediato e recuperação são a primeira prioridade, e é importante agir rápido para reduzir o sofrimento humano", disse o presidente do Banco Mundial, Robert Zoellick. O banco informou que a recente alta dos preços dos alimentos colocou mais de 44 milhões de pessoas em todo o mundo em condição de extrema pobreza.