Moscou Boris Yeltsin, o homem que deu o golpe final no comunismo, acabou com a União Soviética (URSS) e abriu uma nova etapa nas relações internacionais, morreu ontem em Moscou, aos 76 anos, devido a uma parada cardíaca repentina.
Em sua última entrevista, divulgada pela televisão russa em 2006, lamenta os erros cometidos após a queda do regime comunista. "Fomos ingênuos, e veio a desilusão", disse Yeltsin..
Embora sorridente no vídeo, em alguns momentos o ex-presidente não consegue esconder a amargura que sente durante o breve resumo que faz de seus acertos e erros à frente da Rússia.
"Na crista da euforia democrática, havia a sensação, e eu também a sentia, de que muito em breve colheríamos os frutos das transformações, da mudança do sistema político. Refiro-me à melhora da vida do povo. E foi um erro", disse.
Yeltsin lembra que nenhum país, até então, tinha conseguido a transição pacífica do comunismo à democracia.
"Nenhum de nós tinha experiência alguma em dirigir um Estado democrático, com liberdade de expressão e economia de mercado", disse, lembrando que "a última experiência foi esmagada (pela revolução bolchevique) em 1917".
A história do mundo demonstra, prossegue ele na entrevista, que "mudanças semelhantes requerem décadas inteiras".
"Duas, três, quatro décadas, mas nunca dois ou três anos, muito menos 500 dias", disse Yeltsin, referindo-se ao seu primeiro plano de reformas, que pretendia transformar o país nesse período de tempo.
Autoridades de todo o mundo lamentaram a morte do ex-presidente. Mikhail Gorbachov, que iniciou as reformas da ex-União Soviética disse que Yeltsin "teve um destino trágico". "Depois dele, o país teve grandes sucessos, mas também graves erros", declarou o último presidente da URSS.
0 presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, enviou ao Kremlin uma mensagem de condolências: "Recebi, com pesar, a notícia do falecimento do Presidente Boris Ieltsin. Peço-lhe aceitar minhas mais sinceras condolências pela perda do líder que conduziu os destinos da Rússia em momento de grande importância histórica".
O atual presidente, Vladimir Putin, lembrou que Yeltsin "foi o primeiro presidente da Rússia". "Com esse título ele entra para sempre na história do país e de todo o mundo", afirmou.
O ex-presidente americano Bill Clinton, que se encontrou com Ieltsin mais de 15 vezes como presidente dos EUA durante a retomada das relações com a Rússia no pós-Guerra Fria, classificou o presidente russo como "corajoso e firme nas grandes questões paz, liberdade e progresso".