A Câmara dos Deputados dos Estados Unidos aprovou nesta semana o orçamento militar que permite a criação da Força Espacial, o sexto ramo das forças armadas americanas e uma das maiores prioridades do presidente Donald Trump para a área de defesa.
Trump disse que assinaria o orçamento após fazer um acordo com os deputados democratas que permite a criação da Força Espacial em troca de um aumento no prazo de licença maternidade e paternidade para mais de 2 milhões de funcionários federais.
Em março de 2018, Trump falou sobre espaço em discurso a fuzileiros navais em San Diego.
"Minha nova estratégia nacional para o espaço reconhece que o espaço é um domínio de combate", disse o presidente às tropas, "assim como a terra, o ar e o mar. Podemos até ter uma Força Espacial. Temos a Força Aérea, temos o Exército, a Marinha. Sabe, eu estava dizendo isso outro dia - porque estamos fazendo uma tremenda quantidade de trabalho no espaço - eu disse: 'Talvez precisemos de uma nova força. Vamos chamá-la de Força Espacial. E eu não estava realmente falando sério. E então eu disse: 'Que ótima ideia. Talvez tenhamos que fazer isso'".
Muitos zombaram e fizeram piadas com a ideia. No entanto, existe uma enorme gama de problemas que poderiam surgir se outros países fossem capazes de estabelecer uma supremacia militar extraterrestre.
Considere o valor dos satélites para o modo de vida atual, e também para o modo de guerra americano: os Estados Unidos têm 901 satélites, mais do que qualquer outro país. Trinta e um deles fornecem GPS, nos quais as pessoas confiam não apenas para dirigir, mas também para bancos, agricultura, robótica, manutenção da rede elétrica e muito mais. Outros satélites permitem ligações telefônicas, acompanham o clima, monitoram desastres ambientais e ajudam a traçar o curso das mudanças climáticas. Os satélites existem para alertar antecipadamente sobre ataques nucleares, coordenar interceptadores de mísseis e acompanhar a adesão de outras potências aos tratados de controle de armas. Quando as forças dos EUA estão em conflito, os satélites fornecem comunicações, navegação, reconhecimento, detecção de mísseis táticos e direcionamento de armas.
Diante de tudo isso, é inquietante que, nos últimos anos, a China tenha demonstrado a capacidade de abater satélites com mísseis. A Índia fez o mesmo na primavera passada e a Rússia está testando uma arma similar. China e Rússia também estão desenvolvendo métodos para sabotar satélites por outros meios, como lasers ou equipamentos eletrônicos de interferência, de acordo com autoridades dos EUA.
O Departamento de Defesa dos EUA tem trabalhado silenciosamente tanto na ameaça potencial aos satélites quanto na questão de manter a superioridade espacial durante as duas últimas administrações presidenciais, principalmente com especialistas em espaço na Força Aérea. Criar uma Força Espacial elevaria e concentraria esses esforços. Os apoiadores da iniciativa dizem que ela promoveria uma cultura espacial militar singular, que fomentaria a inovação em estratégia e defesa de satélites, fortaleceria forças terrestres e potencialmente ajudaria a salvaguardar a exploração futura do espaço.
"Não queremos esperar até entrar em uma guerra espacial e não estarmos preparados para isso, para então avançarmos e reconhecer esses problemas", disse Douglas Loverro, a pessoa apontada pelo Pentágono para a política espacial durante o governo Obama, recentemente ao Washington Post. "Porque a primeira guerra espacial pode ser o primeiro conflito entre pares que os EUA perdem". De fato, o argumento da Força Espacial é suficientemente convincente para que o debate real não seja sobre se algo assim deve acontecer, mas sobre de que forma acontecerá - e o que podemos esperar que aconteça conosco aqui na Terra.
"Pearl Harbor do espaço"
Donald Rumsfeld lançou a marcha em direção a uma Força Espacial com uma imagem assustadora. Antes de se tornar secretário de Defesa do presidente George W. Bush, ele presidiu uma comissão para avaliar o espaço e a segurança nacional. O relatório da comissão de janeiro de 2001 alertou: "Os EUA são um candidato atraente para um 'Pearl Harbor do espaço'. O que estava em risco naquela época soa antiquado hoje: o relatório descreveu como o mau funcionamento de um satélite em 1998 havia interrompido o funcionamento de 80% dos pagers dos EUA. "Para que os EUA evitem um 'Pearl Harbor do espaço'", continuou o relatório, "é preciso levar a sério a possibilidade de um ataque aos sistemas espaciais dos EUA".
Desde então, o "Pearl Harbor do espaço" tem sido um pesadelo sobre um ataque furtivo que destrói os principais satélites americanos.
Mas o relatório de Rumsfeld foi arquivado e esquecido após os ataques de 11 de setembro de 2001, quando a principal ameaça à segurança dos EUA passou a ser outra.
Houve alguns alertas desde então. Em 2007, a China derrubou um de seus próprios satélites meteorológicos a partir de uma órbita baixa - uma demonstração não muito sutil de capacidade. Em 2013, o país disparou contra um dispositivo muito mais alto - cerca de 30 mil quilômetros no espaço, desconfortavelmente próximo da órbita geossíncrona, que está a cerca de 35 mil quilômetros da Terra, onde residem alguns dos satélites americanos mais preciosos, incluindo os que fornecem comunicações militares e outros que alertam para ataques com mísseis nucleares. A China disse que estava apenas conduzindo um experimento científico, mas o Pentágono ficou profundamente alarmado.
Em 2017, a Rússia lançou um foguete a partir do qual um satélite apareceu, e do satélite emergiram dois outros satélites. Um grupo de especialistas em segurança os chamou de "satélites encaixados russos". Os satélites começaram a manobrar e mudar de órbita. Anteriormente, outro satélite russo estava se aproximando de satélites dos Estados Unidos e de aliados. Nenhum dano foi causado, mas não era preciso ser um cientista de foguetes para entender que uma maneira de atacar um satélite é usar outro satélite para atacá-lo ou se aproximar o suficiente para prejudicá-lo com algum tipo de arma.
A Força Espacial teria como missão, segundo uma proposta de conceito, "impedir conflitos no espaço, permitir o comércio, garantir o estado de direito e, caso a dissuasão falhe, garantir os interesses de diplomacia, de informação, militares e econômicos dos Estados Unidos e aliados no espaço, apoiando as forças terrestres que buscam o término da guerra em termos favoráveis o mais cedo possível". O sucesso do novo ramo será julgado por sua capacidade de realizar essas tarefas.