Washington - O Egito passou recentemente por um terremoto político. Depois de quase três décadas no poder, o presidente Hosni Mubarak se viu forçado a renunciar em 11 de fevereiro, após 18 dias de grandes protestos pelo país. Diversos analistas destacaram a importância da população mais jovem para pressionar o regime, que costumava reprimir duramente a oposição e restringir seus espaços.
"Houve vários esforços anteriores (pela democracia), mas acho que definitivamente o ápice foi trazer os jovens que não estavam envolvidos às ruas, e esse foi um trabalho dos próprios jovens", afirma, em entrevista por telefone, Ehaab Abdou, ativista social e membro do Middle East Youth Initiative (Iniciativa Jovem para o Oriente Médio), ligada ao Brookings Institution, uma organização de políticas públicas sem fins lucrativos. Também cofundador da ONG Nahdet El Mahrousa, a primeira incubadora de empresas sociais no Egito, Abdou vive a trabalho entre o Cairo e Washington.
Abdou enfatiza a importância dos jovens para as mudanças no Egito e em outros países da região, mas também cita iniciativas anteriores, como a criação do "Movimento Egípcio por Mudança", por antigos políticos, pedindo democracia no país a partir dos anos 2000.
"Foi um acúmulo de coisas", avalia. "A maioria das pessoas tinha muito pouco a perder. Não tinham um emprego, uma vida decente, seus direitos humanos eram desrespeitados quando iam a uma delegacia", enumera. "Acho que quando se atinge um ponto no qual o que se pode ganhar é tão maior que o que se pode perder, você não tem muito a arriscar. E acho que é exatamente isso o que ocorreu na Tunísia e no Egito", afirma.
Revolta
A Tunísia foi o primeiro país árabe a depor seu presidente. Em seguida os protestos no Egito, maior nação árabe do mundo, culminaram com a renúncia de Mubarak. Agora, ocorrem protestos em outras nações do norte da África e Oriente Médio, como Líbia, Iêmen, Marrocos e Bahrein.
No Egito, Abdou relata que é comum ver um ônibus lotado com 60 pessoas ao lado de uma Ferrari ou um Jaguar dirigido por um jovem. "E você sabe que não pode conseguir isso, porque não há oportunidades iguais. Não se trata de trabalhar duro para conseguir dinheiro, mas de quem você consegue, as conexões que você tem", diz. "Houve muita corrupção, um crescente acúmulo de poder e riqueza na mão de muito poucos e as massas são muito pobres."
O ativista acredita que os governos da região estão diante de um novo cenário. "Ou realizam mudanças sinceras, ou devem ir embora", aposta.