As forças armadas de Malta apreenderam um navio mercante nesta quinta-feira (28), que, segundo autoridades do país, havia sido tomado por imigrantes resgatados que supostamente exigiam ser transportados para a Europa, em vez de voltar para a Líbia.
Descrita pelo primeiro-ministro de Malta, Joseph Muscat como uma "operação delicada em alto-mar", a equipe de operações especiais maltesa restaurou o controle do navio-tanque e o escoltou até o porto de Valletta, no sudeste de Malta. Os imigrantes que estavam no navio El Hiblu 1 seriam "entregues à polícia para mais investigações", disse o governo de Malta em um comunicado.
Antes do início da operação, o capitão "repetidamente afirmou que não estava no controle do navio e que ele e sua tripulação estavam sendo forçados e ameaçados por um número de imigrantes a seguir para Malta", informou o governo.
O petroleiro estava indo para Trípoli, no Líbano, quando resgatou 108 migrantes, segundo a agência de notícias Reuters. De acordo com o relato de um grupo de resgate alemão que também operava no Mediterrâneo, uma aeronave informou a posição de dois barcos infláveis com migrantes para o El Hiblu 1 e pediu ajuda ao seu capitão, porque a Guarda Costeira da Líbia não estava disponível para ajudar.
"O capitão do navio resgatou as pessoas e pediu ajuda", informou a ONG alemã Sea-Eye, baseada em trocas de rádio. "Ele disse inequivocamente no rádio que as pessoas estavam muito chateadas e não queriam ser trazidas de volta à Líbia".
A situação é um exemplo das tensões no Mediterrâneo, onde os países europeus diminuíram as permissões de entrada de imigrantes e reduziram as operações de resgate em alto mar. No entanto, centenas se arriscam nesta jornada todo mês.
O ministro do Interior da Itália, Matteo Salvini, descreveu o caso em termos criminais, chamando-o de "sequestro" e o primeiro ato de "pirataria" realizado por imigrantes. Mas grupos humanitários e outros especialistas em migração disseram que os eventos simplesmente mostraram o desespero dos migrantes para escapar da Líbia, onde podem ser comprados e vendidos por contrabandistas, detidos, torturados ou vendidos para a prostituição.
Por que poucos imigrantes estão chegando à Europa
A Líbia recebeu maior liberdade da Itália e da União Européia para patrulhar o Mediterrâneo e interceptar migrantes com destino à Europa. Alguns grupos humanitários dizem que a prática de devolver migrantes para a Líbia viola a lei internacional, que autoriza que os resgatados tenham acesso a um porto seguro.
Nos primeiros anos da crise migratória na Europa – quando o fluxo era muito mais alto – o Mediterrâneo era patrulhado por navios italianos e europeus, bem como por grupos humanitários, que resgatavam migrantes de botes frágeis e os transportavam para um local seguro, geralmente para a Itália. Mas no ano passado, a Itália fechou seus portos para imigrantes resgatados por barcos humanitários. E a UE disse na quarta-feira que está reduzindo seu esforço marítimo.
Analistas de migração dizem que, como resultado, um vazio se abriu no Mediterrâneo – e os navios comerciais são mais propensos a serem chamados para fazer resgates, particularmente quando a Guarda Costeira da Líbia não está disponível ou equipada.