Treino de recarga e descarga de mísseis em uma estação de lançamento de mísseis Patriot| Foto: Capt. Adan Cazarez/Exército dos EUA

Os militares dos EUA podem estar próximos de se tornarem vítima de uma estratégia chinesa "deliberada, paciente e com recursos robustos" para reduzir as vantagens tecnológicas das forças armadas americanas, alertou um novo relatório co-escrito pelo ex-funcionário número 2 do Pentágono.

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O estudo – escrito pelo ex-subsecretário de defesa Robert O. Work e seu ex-assistente especial, Greg Grant – detalha o que os autores descrevem como uma estratégia chinesa de cinco eixos para acabar e por fim superar a superioridade tecnológica das forças armadas americanas. O objetivo a curto prazo é tornar intervenções de Washington no Pacífico Ocidental muito dispendiosas, e finalmente se tornar a principal força militar do mundo, de acordo com o estudo.

"O Exército de Libertação do Povo Chinês tem perseguido pacientemente os militares norte-americanos por duas décadas", diz o relatório. "Ele estudou o modo de guerra preferido pelos americanos e desenvolveu uma estratégia para explorar suas fraquezas e compensar seus pontos fortes – particularmente seus pontos fortes de tecnologia militar".

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A China, acrescenta o relatório, "parece cada vez mais perto de alcançar a paridade tecnológica com os sistemas operacionais dos EUA e tem um plano para alcançar a superioridade tecnológica".

Outros alertas

Publicado pelo Centro para uma Nova Segurança Americana, ou CNAS, o estudo foi divulgado enquanto um número crescente de oficiais e ex-oficiais do Pentágono soam alarmes sobre o que o crescente exército da China pode representar para os Estados Unidos, que se acostumaram a ter superioridade militar incomparável.

O general Paul Selva, vice-presidente do Estado Maior Conjunto dos EUA, alertou que os militares chineses podem alcançar a paridade tecnológica com os Estados Unidos no início dos anos 2020 e ultrapassar o Pentágono na década de 2030, se os militares dos EUA não corresponderem ao desafio.

Um estudo realizado no final do ano passado por ex-altos funcionários republicanos e democratas a pedido do Congresso concluiu que os Estados Unidos haviam perdido sua vantagem militar em um grau perigoso e poderiam perder uma guerra contra a China em certos cenários.

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Foco em China e Rússia

No início de 2018, o governo Trump lançou uma nova Estratégia Nacional de Defesa, pedindo que o exército norte-americano mude sua ênfase do contraterrorismo, que tem sido o foco principal desde os ataques de 11 de setembro, e se concentre na "grande competição de poder" com a China e a Rússia.

A nova estratégia de defesa nacional foi baseada e acrescentou clareza a uma iniciativa que Robert Work liderou no Pentágono no início de 2014, conhecida como o “Third Offset” (A Terceira Compensação). Essa estratégia pedia aos Estados Unidos que mantivessem sua vantagem militar renovando o foco na inovação tecnológica, mas ela não destacou a China ou a Rússia como ameaças ou concorrentes.

No relatório do CNAS, Work e Grant dizem que, em retrospecto, o Pentágono deveria ter especificado que o objetivo principal do Third Offset era abalar os esforços da China para minar o domínio tecnológico das forças armadas americanas.

"Eu teria dito: 'Os chineses estão chegando, os chineses estão chegando, os chineses estão chegando', se eu pudesse fazer isso", disse Work. "E eu teria tentado promover um senso mais agudo de urgência, que não podemos mais esperar. A cada dia em que esperamos, nós ficamos cada vez mais para trás."

Em entrevista ao Washington Post, Work disse que o governo Obama não se sentia confortável para fazer uma estratégia tão ousada contra a China, porque altos funcionários não queriam superestimar a competição e provocar uma nova Guerra Fria ou uma corrida armamentista.

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Em seu relatório, Work e Grant detalham cinco linhas de esforço que, segundo eles, o governo chinês adotou nas últimas décadas com o objetivo de enfraquecer a vantagem tecnológica das forças armadas americanas.

Segundo o estudo, os chineses empregaram espionagem industrial e técnica; desenvolveram conceitos e capacidades para explorar vulnerabilidades na rede de batalha dos EUA; acumularam um arsenal de mísseis de precisão de longo alcance; desenvolveram "capacidades negras" para surpreender os Estados Unidos no caso de um conflito; e empreenderam esforços para se tornarem um líder mundial em inteligência artificial e integrar a tecnologia em suas forças armadas para garantir uma vantagem.

Tecnologia

De todas essas linhas de esforço, Work diz estar particularmente preocupado, no momento, com o desenvolvimento pela China de tecnologias e conceitos para explorar as vulnerabilidades na forma como os Estados Unidos se envolvem em guerra. Ele disse que a ideia da China é conseguir a vitória contra os Estados Unidos em qualquer conflito potencial desabilitando as redes, comunicações e tecnologias que permitem que as forças armadas americanas modernas operem.

"Em outras palavras, não nos importamos com quantos navios afundamos. Não nos importamos com quantos aviões derrubamos", disse Work. "Tudo o que nos interessa é se podemos rachar a rede digital que os EUA usam para aplicar sua força, e impediremos que os Estados Unidos alcancem seus objetivos de campanha".

Work, que é coronel aposentado do Corpo de Fuzileiros dos EUA serviu no Pentágono no governo Obama e no início do governo Trump, disse que todas as ligações das quais os militares americanos dependem provavelmente são cobertas por um sistema de guerra eletrônica chinês projetado para desativá-las no caso de um conflito.

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O ex-alto oficial do Pentágono disse que a outra linha de esforço que o preocupa é a ênfase da China em mísseis balísticos guiados e armas hipersônicas, projetadas para superar as versões americanas. Work disse que isso desafia os membros do serviço americano, que se acostumaram a ter tecnologias melhores do que os adversários.

O relatório observa que, como resultado dos avanços da China, qualquer avaliação objetiva deve considerar a possibilidade de que os militares dos EUA "estejam próximos de se tornarem vítimas de uma estratégia de compensação militar-técnica deliberada, paciente e robusta." Ele diz que os Estados Unidos provavelmente não conseguirão vencer o desafio apenas com dinheiro e por isso devem inovar mais do que os chineses.

"A vantagem militar é apenas 1,1 vez melhor do que o adversário", disse Grant. "Então, comece por aí. E então comece a aumentar a vantagem ao longo do tempo."