Tanques sírios bombardearam a cidade de Hama depois das preces do Ramadã na terça-feira, disseram moradores, no terceiro dia de ataques contra manifestantes que fazem os maiores protestos contra o presidente Bashar al Assad em cinco meses de rebelião.
Em outras cidades de todo o país, forças de segurança também alvejaram manifestantes pró-democracia.
Ativistas de direitos humanos dizem que os ataques de segunda e terça-feira contra os manifestantes mataram pelo menos 27 civis, sendo 13 em Hama, onde tropas e tanques iniciaram no domingo uma operação para retomar o controle da cidade.
Isso eleva a pelo menos 137 o total de mortos no país em três dias, sendo 93 em Hama, segundo testemunhas, moradores e ativistas.
Enquanto potências estrangeiras hesitam sobre o que fazer para acabar com o derramamento de sangue, a Rússia -- tradicional aliada de Damasco -- disse que não se oporia a uma resolução do Conselho de Segurança da ONU condenando a violência.
A nova posição russa, retirando a sua ameaça de veto no Conselho, demonstra a crescente repulsa internacional à repressão do governo de Assad aos manifestantes.
O Brasil, que na segunda-feira emitiu nota condenando a ação síria contra os manifestantes em Hama, disse que está negociando com Índia e África do Sul a possibilidade de enviar representantes para a Turquia, onde se concentram as negociações com a Síria.
"Estamos privilegiando neste momento a coordenação do Ibas (Índia, Brasil e África do Sul) e negociando termos de transferência para uma gestão conjunta dos três países com as autoridades de Damasco, instando o governo sírio a proceder as reformas dentro do mais breve prazo e a pôr fim à violência, que já resultou em mortes em uma escala inteiramente inaceitável, e que precisa ser objeto de uma reação que ponha fim a esse processo", disse em Brasília o chanceler Antonio Patriota.
Repressão
O bombardeio de terça-feira à noite ocorreu depois de ataques contra bairros residenciais de Hama na noite anterior. A nova ofensiva se concentrou nos bairros de Rubaii, Al Hamidiya e Baath, no leste, e na estrada para Aleppo, no norte, segundo relato de dois moradores.
Não há informações imediatas sobre vítimas. Ativistas de direitos humanos haviam dito anteriormente que cinco civis morreram na terça-feira por causa do avanço dos tanques na cidade, que tem 700 mil habitantes e fica na região central do país.
Em outros incidentes, dezenas de pessoas ficaram feridas na repressão aos protestos contra Assad em Mouadhamiya, um subúrbio da zona oeste de Damasco; na cidade de Hasaka, no nordeste do país; e na portuária Latakia, segundo moradores desses lugares. Todos os confrontos ocorreram após as preces noturnas.
"Dez ônibus cheios de 'amn' (seguranças) entraram em Mouadhamiya. Vi dez jovens caindo enquanto eu saía correndo do tiroteio. Centenas de pais estão nas ruas procurando seus filhos", disse uma testemunha que mora no subúrbio, a apenas 30 quilômetros das Colinas do Golã (território sírio ocupado por Israel).
Moradores disseram que os tanques começaram a invadir Mouadhamiya na segunda-feira, matando dois manifestantes, inclusive um menino de 16 anos, Hassan Ibrahim Balleh, que foi enterrado na terça-feira.