Em mais uma mostra do acirramento da guerra civil na Síria, aviões e artilharia pesada do regime do presidente Bashar Assad atacaram nesta terça-feira (2) a capital Damasco e seus subúrbios, enquanto os rebeldes realizaram uma ofensiva em Aleppo para tentar libertar centenas de presos políticos da penitenciária central da cidade. Aleppo e Damasco, as duas maiores cidades do país, têm se transformado no principal alvo da batalha entre o regime de Assad e soldados do Exército Livre da Síria.
Um dia antes, a Sinagoga de Jobar, em Damasco, uma das mais antigas do mundo, foi saqueada e teve boa parte de sua estrutura danificada por bombardeios, de acordo com informações do governo e da oposição. O país vive uma guerra civil que se arrasta há dois anos e que já matou mais de 70 mil pessoas. Só em março, considerado o mês mais letal em todo o conflito, foram 6 mil mortes, sendo um terço delas de civis.
De acordo com o Observatório Sírio dos Direitos Humanos, baseado no Reino Unido, as forças de Assad teriam atingido bairros de Damasco como Jobar, Barzeh e Qaboun, além de realizarem um ataque aéreo em Mleiha. Os rebeldes tomaram o controle de Dael, cidade-chave onde está localizada a principal rodovia que liga Damasco ao sul do país. "Dael foi controlado depois de destruir os três postos de controle do exército nas entradas para a cidade", informou o observatório.
Ainda em Damasco, a TV estatal informou que os rebeldes lançaram morteiros contra o subúrbio de Muqailabiyeh, matando quatro pessoas, incluindo duas crianças. Damasco, que o regime conseguiu manter ilhada da guerra civil por muito tempo, se converteu em um campo de batalha chave no conflito. Do subúrbio da capital síria, rebeldes tentam avançar lentamente até o coração da cidade, onde o presidente mantém suas tropas mais leais e fortemente equipadas.
Em Aleppo, os ataques da oposição foram direcionados a três frentes: o Hospital Kindi - convertido em um complexo militar -, a prisão central e a rotatória de Ghondol. O ataque teria destruído pelo menos 50 casas, matando mulheres e crianças. "O objetivo da ofensiva é reforçar o cerco à prisão central e exigir a libertação dos presos políticos", disse o ativista Mohammed Saeed via Skype. "Se os rebeldes conseguirem tomar as três áreas, poderá cortar as linhas de abastecimento para as tropas governamentais estacionadas na cidade."
Sequestro
No vizinho Líbano, líderes tribais na região norte de Wadi Khaled devem ser reunir para discutir libertar oito sírios que foram sequestrados no caminho para a Síria na segunda-feira. A Agência Nacional de Notícias do Líbano informou que os cidadãos - todos alauitas, como o presidente - foram detidos por parentes de um libanês que foi preso por autoridades sírias por cerca de um ano. O Líbano está fortemente dividido entre partidários e opositores de Assad.
Em balanço divulgado pelo observatório, o país teve mais de 6 mil mortos no mês passado, o mais sangrento desde início do conflito em março de 2011. O número de vítimas inclui, no mínimo, 291 mulheres, 298 crianças, 1.486 rebeldes e 1.464 soldados governamentais. As outras vítimas seriam civis e combatentes não identificados.
O grupo, que monitora violações de ambos os lados do conflito através de uma rede de contatos no país, acredita que o número total de mortes é muito maior do que as 62.554 documentadas.