| Foto: Esther Vargas/Creative Commons

História

Traficante subornava poderosos e dava esmola aos pobres

Nascido em 1949 na cidade colombiana de Rionegro, Pablo Emilio Escobar Gaviria entrou para o crime ainda adolescente, roubando carros em Medellín, segundo maior município do país. Foi na década de 1970 que ingressou no tráfico de drogas. Em alguns anos, conseguiu construir um império que mais tarde foi intitulado de Cartel de Medellín. Nos anos mais prósperos ele chegava a faturar até US$ 1 milhão por dia com a venda de drogas.

Fama

Durante muito tempo, a estrutura montada por Escobar abasteceu o mercado de drogas em toda a América, chegando inclusive aos Estados Unidos. A revista norte-americana Forbes chegou a coloca-lo como o sétimo homem mais rico do mundo, com seu cartel controlando 80% do mercado mundial de cocaína.

Mais do que apenas vender drogas, Escobar detinha uma ampla rede de poder, subornando políticos e juízes. O traficante também era conhecido pelos métodos violentos: além de uma longa lista de assassinatos, o colombiano foi acusado de participar da explosão de um avião e do ataque a um prédio de segurança de Bogotá. Apesar disso, tinha a simpatia de parte da população, especialmente os mais pobres, a quem Escobar costumava distribuir dinheiro e realizar benfeitorias.

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O autor

Alonso Salazar é um jornalista nascido na Colômbia que se dedica a reportagens investigativas. É autor de dez livros, entre eles Drogas y Narcotrafico en Colombia, La Cola del Lagarto – Drogas y Narcotráfico en la Sociedad Colombiana, Parábolas de Pablo e Profeta en el Desierto – Vida y Muerte de Luis Carlos Galán. Além de jornalista e escritor, foi prefeito de Medellín entre 2008 e 2011.

Escobar virou símbolo do narcotráfico colombiano a ser destruído

Há pouco mais de 21 anos, no dia 2 de dezembro de 1993, chegava ao fim a carreira de um dos criminosos mais famosos e temidos da América do Sul. Em um episódio digno de filme de Hollywood, Pablo Escobar, que começou como ladrão de carros e construiu um cartel do narcotráfico na Colômbia, morreu aos 44 anos em uma ação policial. Sua trajetória já rendeu documentários e livros, o mais recente Pablo Escobar: Ascensão e Queda do Grande Traficante de Drogas, escrito pelo jornalista Alonso Salazar e lançado pela Editora Planeta. "Escobar inaugurou na Colômbia formas de terror que ainda não eram conhecidas", afirma Salazar em entrevista concedida por e-mail à Gazeta do Povo. Para o autor, o traficante era um personagem único: cruel, ambicioso e megalomaníaco. "Seu grande poder deriva não apenas do narcotráfico, mas também da capacidade de instaurar a morte como grande ameaça para a sociedade", resume.

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Por que escolher Pablo Escobar como personagem de uma biografia?

Escobar se converteu em um personagem da história do final do século 20 na Colômbia, e em Medellín seu peso foi ainda maior. Trabalhei por anos em bairros populares [favelas] e testemunhei a influência de Escobar na vida de centenas de jovens. Pude observar como o narcotráfico transformou a vida de todos. Como jornalista, tinha obrigação de escrever sobre isso e o eixo inevitável era Escobar.

O que mais o surpreendeu nas pesquisas para o livro? Surpreendeu-me que os que menos conheceram Escobar foram sua própria família. É comum que homens vistos como maus tenham facetas privadas contrastantes. Escobar manteve seus filhos, especialmente sua filha, em um reduto. Ali ele era outro, talvez oposto àquele que desafiava o Estado com assassinatos . Do ponto de vista narrativo, sua figura é um desafio, e sua história, apaixonante.

O que Escobar representa hoje para os colombianos? Sua figura foi se diluindo com o tempo. Hoje, se lembram cada vez mais de suas crueldades, das dezenas de líderes importantes da sociedade que assassinou e as milhares de pessoas que foram suas vítimas. Em novembro do ano passado, ele foi lembrado pela tomada do Palácio da Justiça por um grupo de guerrilheiros do M-19 com seu apoio, que resultou no abatimento de um avião em pleno voo. Sua influência na sociedade ainda é forte.

É po ssível fazer um comparativo entre a Colômbia antes e depois de Escobar? Escobar inaugurou na Colômbia formas de terror que ainda não eram conhecidas, usadas principalmente por grupos com vocação política. É difícil encontrar um criminoso com sua gana, suas ambições e sua megalomania. O narcotráfico não acabou, a forma de corrupção e seu estilo violento continuam a influenciar. Mas a Colômbia, sem dúvida, se refaz a cada dia e suas instituições, ainda que lentamente, se consolidam.

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Há quem diga que Escobar foi perseguido intensamente porque não apenas controlava o tráfico de drogas, mas também porque ameaçava o poder. O senhor concorda? A singularidade dele é a de um criminoso comum que desafiava o Estado. Seu grande poder deriva não apenas do narcotráfico, mas também da capacidade de instaurar a morte como grande ameaça para a sociedade. Porém, ele também se converteu em um símbolo do narcotráfico que deveria ser destruído.

Há diferentes versões sobre a morte de Escobar. Alguns dizem que ele foi morto pelo irmão de um paramilitar, outros que se suicidou. O que o senhor acha ? Acredito que ele foi morto por traficantes rivais em conjunto com o chamado Grupo de Busca da Polícia [criado especialmente para prender Escobar] e a DEA [força-tarefa norte-americana de combate ao tráfico]. Ele conseguiu fugir da casa onde estava escondido, então não se suicidou. Quanto a quem exatamente efetuou o disparo há diferentes versões, não sei qual é a correta. Muito provavelmente vários dispararam contra ele. Era um troféu.

Circunstâncias da morte do criminoso seguem controversas

Pablo Escobar morreu há 21 anos em uma operação policial liderada pelo coronel Hugo Aguilar. Em 2 de dezembro de 1993, encurralado por inimigos, imerso em uma guerra contra o Estado e após ter perdido parte de seu círculo de segurança, foi localizado em uma casa da cidade de Medellín. Com evidente sobrepeso e duas pistolas nas mãos, fugiu a tropeções pelo telhado do prédio, onde foi atingido pelos disparos dos policiais.

No entanto, essa versão oficial é contestada por algumas publicações. Uma delas de Juan Pablo Escobar, filho do traficante que publicou recentemente o romance Pablo Escobar: Mi Padre. Na obra, ele garante que o pai se suicidou quando se viu ferido e encurralado nos telhados da casa de Medellín.A versão também é defendida por sua irmã Alba Marina e se apoia nas autópsias que apontam que o traficante foi atingido por uma bala que entrou perto da orelha direita, o que poderia indicar um tiro na têmpora próprio de um suicídio.

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A terceira versão nasceu de outro livro de autoria do desmobilizado chefe paramilitar Diego Fernando Murillo, extraditado aos Estados Unidos, onde cumpre pena por narcotráfico. Segundo essa versão, publicada no livro Así Matamos al Patrón, ele esteve com a polícia no momento da morte de Escobar e assegura que foi um irmão seu quem matou o traficante.