O economista Carlos Fernández Valdovinos, de 58 anos, foi escolhido pelo novo presidente do Paraguai, o conservador Santiago Peña, para comandar o Ministério da Economia e Finanças do governo que tomou posse em agosto.
Valdovinos estudou no Brasil, onde se formou em economia pela Universidade Federal do Paraná (UFPR). Fez doutorado na Universidade de Chicago, assim como Paulo Guedes, e depois trabalhou no Banco Mundial (2004-2006) e no Fundo Monetário Internacional (FMI, entre 2006 e 2011). Foi presidente do Banco Central do Paraguai entre 2013 e 2018.
Defensor da economia de mercado, Valdovinos se preocupa com as relações do Paraguai com a China: enquanto setores importantes da economia local reivindicam vínculos comerciais mais estreitos com Pequim, o ministro quer justamente que não haja dependência deles.
Segundo dados da Statista, plataforma que reúne estatísticas econômicas, sociais e demográficas de todo o mundo, o saldo comercial entre os dois países é extremamente desequilibrado.
Em 2022, enquanto as importações do Paraguai da China totalizaram mais de US$ 4,6 bilhões, as exportações do país sul-americano para os chineses somaram apenas US$ 21,8 milhões.
As relações com Pequim passam por uma questão política: o Paraguai é um dos 13 países do mundo e o único da América do Sul que mantêm relações diplomáticas com Taiwan.
A China considera a ilha, administrada separadamente desde o final da Guerra Civil Chinesa, em 1949, como parte do seu território e planeja incorporá-la.
Nos últimos anos, vários países latino-americanos - Honduras, República Dominicana, El Salvador e Panamá - abriram mão do reconhecimento de Taiwan e passaram a manter relações com Pequim, interessados em promessas de investimentos da segunda maior economia do mundo.
Valdovinos, entretanto, pretende seguir outro caminho: em entrevista à agência Reuters no final de julho, o novo ministro disse que vai buscar atrair justamente mais investimentos taiwaneses.
“Somos muito bons na produção de soja e carne, mas precisamos diversificar”, justificou. “Pedimos a Taiwan que nos ajude com isso, através de investimentos do seu setor privado”, disse Valdovinos, que alertou que os agricultores paraguaios que pressionam por uma aproximação com a China “não estão enxergando os riscos”.
Aprofundar essas relações “provavelmente seria conveniente para alguns setores”, porém, “como estratégia de desenvolvimento econômico e social do Paraguai, não nos convém continuar apostando única e exclusivamente nos principais setores exportadores”, justificou Valdovinos.
A manutenção das relações com Taiwan foi uma promessa de campanha de Peña, que no seu discurso de posse (na qual esteve presente o vice-presidente taiwanês, William Lai) afirmou que o Paraguai construirá “alianças e cooperação com uma visão geoestratégica”, e que a relação com Taipei “é um exemplo disso e do espírito amigável e cooperativo do Paraguai com outras nações”.
Nessa espécie de cruzada regional contra os chineses, por ora solitária (o líder nas pesquisas para a eleição presidencial argentina, Javier Milei, é crítico de Pequim), Assunção busca relações “pragmáticas” com o governo de esquerda do Brasil (com quem discutirá em breve a revisão do Tratado de Itaipu) e também vai propor que a maior economia sul-americana, já o maior investidor estrangeiro no Paraguai, utilize o vizinho como alternativa para importar menos da China.
“Não queremos tirar empregos dos brasileiros. Só queremos substituir alguns bilhões [de dólares] que importam da China. É um ganha-ganha. O investidor brasileiro, vindo para o Paraguai, fabrica e leva produtos que antes vinham da China. Ganha o Paraguai, que cria o emprego, e ganha o brasileiro, que tem a fábrica aqui e o lucro. O objetivo é substituirmos a China”, afirmou Valdovinos, em entrevista ao Valor.
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