O fotógrafo Burhan Ozblici estava apenas visitando uma exposição de arte em Ancara, na Turquia, quando presenciou o assassinato do embaixador russo Andrey G. Karlov, na manhã da última segunda-feira (19). Com a câmera na mão, o fotógrafo da agência de notícias Associated Press (AP) foi responsável por fazer os registros que estamparam manchetes do mundo todo, e chamaram a atenção por terem retratado a brutalidade e possibilitado uma visão de proximidade do crime.
Nesta terça-feira (20), Ozblici contou ao jornal britânico The Guardian como foi a experiência, descrevendo os principais momentos. De acordo com o relato, quando o atirador Mert Altintas sacou a arma, o fotógrafo pensou que se tratava de uma performance teatral. “Ao invés disso, foi um assassinato friamente calculado, desdobrando-se em frente a mim e a outras pessoas que se contorciam, aterrorizadas, em busca de proteção”, lembra.
Ozblici explica que foi até o local para conferir a exposição fotográfica “De Kalingrado a Kamchatka, a partir dos olhos dos viajantes”, cuja abertura foi realizada naquele dia e contou com um discurso do embaixador russo. Logo depois de se aproximar de Karlov para fotografá-lo, oito tiros barulhentos ecoaram pela galeria de arte, em meio aos gritos das pessoas, que tentavam se esconder atrás de colunas, embaixo de mesas ou deitando no chão.
“Levei alguns segundos para perceber o que tinha acontecido: um homem morreu na minha frente; uma vida tinha desaparecido diante dos meus olhos”, contou ao The Guardian.
Por que Ozblici decidiu fotografar?
Após se esconder atrás de uma coluna, o fotógrafo do assassinato tentou pensar sobre o que havia motivado o atirador que, agitado, caminhava ao redor do corpo do embaixador, esmagando algumas das fotos penduradas na parede. Ainda assim, Ozblici explica que o assassino parecia no controle de si. “Eu estava com medo, é claro, e sabia do perigo que correria se o atirador se virasse para mim. Mas avancei um pouco e fotografei o homem enquanto ele intimidava as pessoas desesperadas”.
Sobre o que passou em sua cabeça para decidir fotografar mesmo correndo tanto perigo, Ozblici conta que sentiu que seria seu dever. “Isto é o que eu estava pensando: ‘Eu estou aqui. Mesmo se eu for atingido e me ferir, ou mesmo se for morto, eu sou um jornalista. Eu tenho que fazer o meu trabalho’. Eu podia fugir sem fazer quaisquer fotos ... Mas eu não teria uma resposta adequada se as pessoas mais tarde me perguntassem: ‘Por que você não tirou fotos?’”.
Atirador detido por operação policial
Não demorou muito para que seguranças do local evacuassem todos os visitantes, e ambulâncias e veículos armados chegassem para uma operação policial. Em seguida o atirador Mert Altintas, identificado como ex-policial, acabou sendo morto durante um tiroteio.
“Quando voltei para o escritório para editar as minhas fotos, eu fiquei chocado ao ver que o atirador estava, na verdade, de pé atrás do embaixador enquanto ele discursava para a exposição. Como um amigo, ou um guarda-costas”, conclui.
Colaborou: Cecília Tümler