O anúncio de que os Estados Unidos formarão uma força-tarefa antiterror para atuar na tríplice fronteira entre Brasil, Paraguai e Argentina, por causa de uma possível presença de grupos terroristas no local, causou revolta em Foz do Iguaçu, na região Oeste do Paraná.
De acordo com reportagem do jornal Gazeta do Povo, em sua edição desta terça-feira (18), a prefeitura de Foz do Iguaçu irá cobrar explicações do governo norte-americano a respeito de acusações, consideradas infundadas.
A questão veio à tona depois que a Câmara dos Representantes dos Estados Unidos, órgão equivalente à Câmara dos Deputados no Brasil, aprovou uma moção para que o presidente norte-americano George W. Bush solicitasse a formação da força-tarefa para atuar contra o terrorismo no Ocidente, especialmente na tríplice fronteira. No documento, os políticos ainda pedem que o presidente exija que os países da Organização dos Estados Americanos (OEA) reconheçam o Hezbollah e o Hamas como organizações terroristas.
O prefeito de Foz, Paulo Mac Donald Ghisi, informou ao jornal que solicitará, por meio do Ministério das Relações Exteriores do Brasil, que o governo norte-americano faça uma investigação na cidade para confirmar a existência de terroristas, antes que se inicie a força-tarefa. "Vamos pedir isso aos próprios norte-americanos. Não aceitamos essa acusação. Temos prejuízo porque estamos em uma cidade que recebe o mundo", disse.
Ghisi também pretende escrever uma carta ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva para informá-lo sobre o problema e entrará em contato com os governantes de Ciudad del Este e Puerto Iguazú para tomar uma iniciativa conjunta.
Itamaraty
O Ministério das Relações Exteriores do Brasil informou, por meio da assessoria de imprensa, que a posição do governo brasileiro é a de que não há indícios de atividades terroristas na região. Para o Itamaraty, o governo norte-americano estará desrespeitando a soberania brasileira caso a medida seja tomada. A posição do Itamaraty está fundamentada em um documento assinado pelos governos da Argentina, Brasil, Estados Unidos e Paraguai durante a IV Reunião Plenária do Grupo 3+1 sobre a Segurança da Tríplice Fronteira, realizada em dezembro de 2005, em Brasília.
Conforme o documento, ficou decidido que se algum país tivesse informações sobre atividades terroristas na região deveria avisar aos outros. No entanto, até o momento não houve comunicado oficial sobre o tema ao governo brasileiro.
Colônia árabe
A colônia árabe de Foz do Iguaçu também refutou a moção norte-americana. O presidente do Centro Cultural Beneficente Islâmico, Zaki Moussa, disse que a colônia árabe da cidade está sendo sufocada com a guerra no Líbano e pelos discursos norte-americanos.
Moussa afirmou que os lares dos mulçumanos da cidade estarão abertos caso o governo norte-americano faça uma investigação séria para detectar a presença de terroristas na região. Ele salienta que na colônia há pessoas que cultuam líderes religiosos, como também na América Latina há simpatizantes de Che Guevara e Fidel Castro. No entanto, descarta a idéia de que há mulçumanos extremistas vivendo em Foz do Iguaçu e no Paraguai.
A cidade tem a segunda maior colônia árabe do Brasil (depois de São Paulo), com cerca de 12 mil imigrantes e descendentes. A maioria dos árabes mora em Foz do Iguaçu e trabalha no comércio de importados do Paraguai.
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