Muitos trabalhadores de Abidjan, principal cidade da Costa do Marfim, ignoraram a convocação de greve do candidato presidencial Alassane Ouattara nesta segunda-feira (27) para forçar a saída de Laurent Gbagbo do poder, sob a alegação de que precisam trabalhar a fim de ter o que comer.
As operações nos portos de Abidjan e de San Pedro, por onde passa boa parte das exportações do cacau da Costa do Marfim, eram normais na manhã de segunda-feira. O distrito empresarial de Plateaux, no centro de Abidjan, funcionava normalmente, com lojas e escritórios abertos.
Na cidade de Bouaké, mais ao norte do país, reduto de simpatizantes de Ouattara e controlada por rebeldes, alguns proprietários de lojas aderiram à greve, mas os bancos e o transporte público funcionavam.
O país que é o maior produtor de cacau do mundo enfrenta um impasse desde que uma eleição contestada no mês passado culminou em violência. Mais de 170 pessoas já foram assassinadas, de acordo com a Organização das Nações Unidas. O impasse reabre as feridas da guerra civil de 2002-2003.
Os Estados Unidos, a União Europeia, a ONU, a União Africana e o bloco africano do Oeste Ecowas deram seu apoio a Ouattara depois que os resultados preliminares da eleição indicaram uma vitória dele por uma margem de 8 pontos.
"Todo mundo está no trabalho esta manhã", disse o diretor de uma empresa exportadora de cacau no porto de San Pedro, no oeste do país.
"É verdade que o país ainda está numa posição difícil politicamente, mas tentamos fazer o que podemos. O cacau tem estado disponível em grandes quantias há algum tempo e nosso objetivo é exportá-lo da melhor forma que pudermos", disse ele, pedindo para não ser nomeado.
A agitação provocou a maior alta em quatro meses nos preços futuros do cacau, enquanto o Eurobond do país registrou um recorde de baixa com as preocupações de que o governo não pagará obrigações de 30 milhões de dólares no dia 31 de dezembro.
No entanto, exportadores de cacau afirmaram que o volume de cacau chegando aos portos excederam os níveis do ano passado, apesar da crise.
"Os marfinenses vivem um dia depois do outro. Pedir para não trabalharmos é pedir para não comermos. Para funcionários públicos, isso pode não ser um problema, mas para nós...é um problema real", disse Ebrotie Assomou Jean, comerciante do distrito de Cocody, em Abidjan.
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