Confrontada com um número crescente de radicais dentro de seu próprio território, a França anunciou na semana um pacote de medidas para fechar o cerco e tentar impedir que franceses partam para a guerra em nome do jihad (combate pelo Islã) em lugares como Síria, Mali ou Afeganistão, terrenos férteis para o recrutamento da rede terrorista al-Qaeda. Entre as medidas, está a criação de um número de telefone onde as famílias podem alertar ou "pedir ajuda" às autoridades quando notarem a radicalização de seus filhos.
Com a cabeça do próprio presidente François Hollande recentemente colocada a prêmio por radicais islamistas, o grande medo do governo é que estes franceses voltem para a França ainda mais radicais e cometam atentados no país. Jihadistas europeus nos conflitos do mundo não são novidade. A diferença hoje é esta: o perfil destas pessoas mudou. Não são apenas franceses de origem árabe: há também franceses brancos, originários do próprio país. E o número também. Nas contas do governo francês, cerca de 500 franceses ou residentes na França combatem atualmente na Síria. "Eles (franceses) estão partindo (para a Síria) em maior número e são cada vez mais jovens", alertou o chanceler Laurent Fabius.
O plano francês, entretanto, foi demolido como "inoperante" por dois jornalistas franceses especializados no islamismo: David Thomson, autor do livro "Os franceses jihadistas", e Wassim Nasr. "É apenas um plano para tranquilizar a população. Não vai funcionar", decreta Nasr.
Thomson critica, em particular, duas medidas. Para ele, a ideia de criar um número de telefone para que famílias peçam ajuda às autoridades quando seus filhos se radicalizam parte de um princípio furado: as famílias, segundo ele "são frequentemente as últimas a saberem". E as que sabem, têm vergonha e medo de denunciar seus filhos. "O governo fala em combater sites jihadistas. Está desatualizado. Os jovens estão no Facebook."