Berlusconi (esquerda) recebe Sarkozy em Roma para acertar medidas contra imigrantes do norte da África| Foto: Alessandro Bianchi/Reuters

Cidade italiana enfrenta onda de estrangeiros

A pequena Ventimiglia, na costa da Itália, é mais uma cidade europeia a enfrentar um desafio crescente: o município se tornou uma porta de entrada para imigrantes do norte da África, que tentam escapar da pobreza e dos conflitos em seus países de origem. Na cidade italiana, os imigrantes – em sua maioria tunisianos – tentam obter vistos temporários, concedidos por ra­­zões humanitárias, que lhes permitam viajar para outros países da Europa. O principal destino escolhido é a França, que fica a apenas 7 km de Ventimiglia.

Muitos imigrantes cruzam de trem a fronteira entre Itália e Fran­­ça. Eles dizem que gostariam de conseguir trabalho na Europa, já que o desemprego é alto na Tunísia.

Só neste ano, o a Itália já recebeu mais de 26 mil estrangeiros que fogem dos conflitos em curso no norte da África.

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Londres - Itália e França decidiram em conjunto pedir que a União Europeia rediscuta o tratado que permite a livre circulação de pessoas entre 25 países do continente.

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Conhecido como Tratado de Schengen (cidade em Luxemburgo onde foi assinado), o acordo é um dos pilares da UE. Começou a ser discutido em 1985 e entrou em vigor dez anos depois, abolindo na prática as fronteiras internas entre os países signatários.

Agora, os dois países falam em retornar o controle fronteiriço em "circunstâncias excepcionais". A motivação é a onda migratória de africanos que começou com a queda de governos ditatoriais no norte do continente.

"Não queremos negar o tratado de Schengen, mas estamos de acordo que deve ser modificado quando se apresentarem circunstâncias excepcionais", afirmou o primeiro-ministro italiano, Silvio Berlusconi, após reunião com o pre­­sidente francês, Nicolas Sarkozy.

Mudar um tratado da EU não é fácil. Dependendo da alteração, é necessária a ratificação interna em cada um dos países signatários.

Caso o controle de fronteiras volte, ele afetará os cerca de 400 milhões de habitantes dos 25 países e também turistas, como os brasileiros, que teriam que passar pela chateação do controle de passaportes quando viajassem por exemplo de trem entre Roma e Paris ou Berlim.

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Trens

A reunião aconteceu em Roma, após troca de acusações entre os dois governos por causa da circulação de imigrantes tunisianos que desembarcaram na Itália, con­­sequência da queda do ditador Ben Ali, em janeiro. Cerca de 25 mil fugiram para a ilha italiana de Lampedusa, que fica a 120 quilômetros da costa tu­­nisiana.

Pelas regras da UE, os imigrantes têm de ficar no país em que aportaram até que sejam devolvidos a seus locais de origem ou que seja concedido asilo ou visto.

O governo italiano alegou que não tinha como acolher tanta gen­­te. Apelou por ajuda dos demais membros do bloco. Não obteve resposta e resolveu conceder do­­cumentos temporários de permanência, o que permite a imigrantes circular pelos países signatários de Schengen.

Foi uma gritaria, principalmente de França e Alemanha, des­­tinos preferenciais dos tunisianos.

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Na semana passada, a França bloqueou por meio dia o tráfego de trens com a Itália para impedir a entrada desses tunisianos re­­cém-documentados. Disse que só podiam entrar se comprovassem ter condições de se sustentar.

Durante o encontro de ontem, Sarkozy e Berlusconi acertaram que irão pressionar o governo provisório da Tunísia a que retome o patrulhamento naval e impeça a partida de barcos com imigrantes clandestinos rumo às ilhas italianas de Lampedusa e Sicília. Ber­­lus­­­­coni afirmou que os tunisianos não têm o direito de asilo nos países europeus, uma vez que não existe guerra civil em curso na Tunísia.