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O presidente da França, Emmanuel Macron, receberá nesta segunda-feira Bernard Cazeneuve, em meio a especulações sobre a possível nomeação iminente do último primeiro-ministro de François Hollande para liderar um novo governo. A reunião, que por enquanto não foi anunciada oficialmente pelo Palácio do Eliseu, ocorrerá pela manhã e foi confirmada por fontes próximas a Cazeneuve a diversos meios de comunicação, como a rede de televisão TF1.
O encontro aumenta a solidez do rumor de que Cazeneuve será escolhido por Macron para suceder no cargo de primeiro-ministro o macronista Gabriel Attal, que se demitiu há 50 dias, em resposta aos resultados das eleições legislativas antecipadas de 30 de junho e 7 de julho. A candidatura deste político e advogado de 61 anos para voltar a ocupar o Palácio de Matignon surgiu com força depois de Macron ter se recusado a nomear a candidata proposta pela coligação de esquerda Nova Frente Popular (NFP), Lucie Castets.
O ex-primeiro-ministro do presidente François Hollande (2016-2017) é, segundo vazamentos do Eliseu à imprensa, a única personalidade considerada capaz de evitar “uma maioria contrária”. Ou seja, como primeiro-ministro, hipoteticamente garantiria uma certa estabilidade, como quer Macron, reunindo apoios suficientes para superar moções de censura em uma Assembleia Nacional profundamente dividida.
Nome já provoca racha em coligação de esquerda
No entanto, uma nomeação de Cazeneuve – que é de esquerda, mas deixou o Partido Socialista em 2022 em protesto contra suas alianças com A França Insubmissa (LFI), legenda mais radical de Jean-Luc Mélenchon – ameaça causar um terremoto na esquerda e uma dissolução da NFP. A coligação, composta pelos socialistas, pelos comunistas, pela LFI e pelos ecologistas, mantém oficialmente a posição de que Castets é a única opção, uma vez que, por ser a primeira força na Assembleia (com 193 assentos, embora longe do maioria absoluta de 289), a NFP exige de Macron o direito de governar.
A possibilidade da nomeação de Cazeneuve já revelou profundas divisões inclusive dentro do PS, agitadas por correntes que não são favoráveis à estratégia de aliança com a LFI defendida pelo primeiro-secretário do partido, Olivier Faure. Isto foi demonstrado pelo posicionamento público de figuras como a prefeita de Paris, Anne Hidalgo (próxima de Cazeneuve), que no sábado comentou que o ex-primeiro-ministro socialista seria uma opção “séria” e “confiável” para governar, capaz de trabalhar com todos os partidos.
Contando que alguns deputados socialistas e comunistas romperiam com a linha oficial da NFP para lhe dar seu apoio, Cazeneuve poderia virtualmente permanecer no governo graças aos macronistas (166 deputados), aos grupos minoritários e à direita tradicional do partido Os Republicanos (47). Mesmo a direita nacionalista de Marine Le Pen, a terceira força na Assembleia, com 142 deputados, evitou ameaçar censurar Cazeneuve, algo que foi feito inicialmente dada a possibilidade de um governo liderado pela NFP.
A grande incógnita seria que tipo de políticas Cazeneuve levaria a cabo e quem nomearia como ministros, pois, apesar de ser uma personalidade de esquerda, dependeria eminentemente do macronismo e da direita.