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Transição de gênero

França faz alerta a médicos sobre arrependimento e suicídio de transgêneros

O debate sobre o possível arrependimento relacionado à transição de gênero foi reforçado na França depois de que um menino trans de 15 anos cometeu suicídio, no começo de maio. (Foto: Pixabay)

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"É uma epidemia de suicídios", diz Simon Jutant, jurista da associação Acceptess-T, especializada em transgêneros em um comunicado oficial. O debate sobre o possível arrependimento relacionado à transição de gênero foi reforçado na França depois de que um menino trans de 15 anos cometeu suicídio, no começo de maio, dentro da escola, na cidade de Le Mans.

De acordo com um estudo publicado pela revista The Lancet Diabetes & endocrinology, o risco de mortalidade em transgêneros é duas vezes maior do que em cisgêneros (os que se identificam com o sexo de nascimento). Entre as mulheres transgêneros, a principal causa de morte revelada no mundo são doenças cardiovasculares. Entre os homens trans, o suicídio está em primeiro lugar. Um dos autores, Martin den Heijer, no entanto, ressaltou que novas pesquisas serão necessárias para avaliar o impacto nos próximos anos.

Alerta aos médicos

Em fevereiro, a Academia de Medicina francesa alertou sobre "o número crescente de jovens adultos transgêneros querendo reverter tratamentos e cirurgias". Para controlar o problema, a instituição pediu cautela dos médicos em relação a crianças e adolescentes: "especialmente do ponto de vista psicológico desta população e dos muitos efeitos indesejáveis, até complicações graves, que algumas das terapias disponíveis podem causar”.

O Ministério da Saúde do país divulgou em um comunicado neste mês que as agendas de consultas especializadas em transgêneros estão lotadas. No documento, o órgão público ressaltou a importância de acolher os fatores de grande vulnerabilidade que levam os adolescentes a buscarem a transição de gênero como solução. Os fatores citados foram a evasão escolar,  comportamentos suicidas, problemas psicológicos e/ou ligados ao espectro autista.

Na França, os tratamentos hormonais são permitidos, desde que aprovados pelos pais, independentemente da idade do paciente. A masectomia, retirada dos seios, pode ser feita a partir dos 14 anos. Já as cirurgias que envolvem os órgãos genitais são autorizadas na maioridade, devido ao fato de serem irreversíveis.

Quantidade de adultos trans aumentou 10 vezes em 10 anos

Segundo o Fundo Nacional de Seguro de Saúde da França (Cnam, na sigla em francês), a quantidade de adultos que passaram pela transição de gênero foi multiplicada por 10 nos últimos 10 anos. Em 2020, 9 mil franceses se tornaram transgêneros e 70% deles passaram pela transição entre os 18 e os 35 anos.

Em um artigo especial do jornal francês Le Figaro, Agnès Leclair conta a história de uma pessoa que nasceu mulher, passou pela transição e, depois de 7 anos de tratamentos hormonais e cirurgias, está buscando a reversão para reconquistar os traços femininos naturais.

Algumas mudanças, no entanto, são irreversíveis. Com menos de 21 anos, Mila (como foi chamada na reportagem) fez a cirurgia de retirada do útero, a histerectomia. “Hoje estou mutilada. Foi uma grande perda perceber que os médicos me deixaram me esterilizar aos 21 anos e que eu arruinei meu corpo. Felizmente, escapei do início da calvície.  Percebi que meu rosto e minha pele não foram tão danificados", revela a paciente à jornalista do jornal francês.

Pandemia reforçou tendência entre os mais jovens

Com a pandemia, os mais jovens começaram a buscar informações e se declarar transgêneros. Blandine, uma professora francesa conhecida nas redes sociais, criou um podcast para falar sobre o assunto. Segundo ela, que é militante feminista, as meninas adolescentes são as que mais sofrem, principalmente as que não se encaixam em padrões femininos de beleza.

“Isoladas da vida real, as meninas se convenceram online, em poucas semanas, de que eram meninos.  Meninas adolescentes me disseram que estão constantemente conectadas a fóruns da comunidade trans que brincam com a vitimização. Elas sentiram que estavam se unindo ao lado dos bons, dos oprimidos, e foram aplaudidas quando se declararam não-binárias", declara Blandine na transmissão do Rebelles du genre (Rebeldes do gênero, em português).

De acordo com ela, ainda existe um pequeno registro de transgêneros que se arrependeram da transição (de 1 a 2% no país), porque é "depois de muitos anos que as pessoas se dão conta de que estavam erradas". "A onda ainda vai chegar", alerta.

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