Polêmica
UE questiona deportação de ciganos
Agência Estado
A Comissão Europeia disse ontem que ainda tem questionamentos a fazer à França sobre as expulsões de ciganos, embora o país tenha garantido que a ação não foi tomada injustamente. O comunicado foi emitido após ativistas terem dito que a polícia francesa invadiu um acampamento de ciganos perto de Paris.
Autoridades francesas precisam dar mais informação sobre "uma série de questões" e buscar ajuda da União Europeia (UE) para assegurar que as medidas contra os ciganos, também conhecidos como povo "roma", são legais, afirmou Viviane Reding, comissária de Justiça da UE, ao parlamento europeu, em Strasbourg. A política repressiva da França contra os ciganos em boa parte cidadãos europeus que não possuem documentos de trabalho ou residência surgiu em meio ao reforço da segurança pelo presidente Nicolas Sarkozy.
Sarkozy associou o povo roma ao crime, chamando seus acampamentos de fontes de prostituição e exploração de crianças, e prometeu que os assentamentos ilegais serão "sistematicamente evacuados". O governo intensificou a antiga política de cerco contra ciganos, desmontando seus acampamentos e extraditando-os para o Leste Europeu, principalmente para a Romênia.
As táticas foram criticadas por diversas entidades, incluindo a Igreja Católica. Sem mencionar a França, o presidente da Comissão Europeia, José Manuel Barroso, disse em discurso ontem que os "governos da UE devem respeitar os direitos humanos, incluindo os de grupos minoritários".
Enfrentando queda na popularidade, o presidente francês, Nicolas Sarkozy, foi o alvo principal ontem da maior greve geral organizada durante seu mandato. A paralisação, de um dia, foi convocada em todo o país para protestar contra a reforma da Previdência.
O protesto teria mobilizou entre 2,5 milhões e 3 milhões de pessoas, segundo os sindicatos, e mais de 1 milhão, de acordo com o Ministério do Interior.
A greve afetou principalmente o setor público, com perturbações na rede de transporte, escolas, correios, meios de comunicação e aeroportos. Superou a última greve geral, em 24 de junho.
Os protestos são mais um ataque à popularidade de Sarkozy, que enfrenta escândalos de corrupção em seu governo e é criticado por medidas populistas adotadas para tentar estancar a perda de aprovação, como a expulsão de ciganos e a ameaça de revogar a cidadania de pessoas que ataquem policiais.
O presidente francês terá agora que resolver uma equação delicada: como manter o pulso firme sobre a reforma, uma das prioridades de seu mandato, sem fechar os olhos para a mobilização de ontem.
A reforma
O pano de fundo da mobilização é a necessidade de reduzir despesas após a crise econômica que eclodiu há dois anos. A espinha dorsal do projeto prevê passar de 60 para 62 anos a idade mínima legal para a aposentadoria na França.
A reforma tem o objetivo de equilibrar as contas da Previdência até 2018 e evitar um rombo que poderia chegar, segundo o governo, a 45 bilhões de euros (R$ 100 bilhões) em 2020. A França é hoje um dos países da Europa com a idade mínima mais baixa para obter a aposentadoria.
Apesar de cantar vitória, os sindicatos sabem que a forte participação na greve geral não será suficiente para fazer recuar o presidente.
Ao defender o projeto na Assembleia Nacional, o ministro francês do Trabalho, Eric Woerth, disse que o aumento da idade mínima legal é "indiscutível".
Os sindicatos esperam, entretanto, concessões em outros pontos do projeto, entre eles a garantia de aposentadoria especial para profissões insalubres e a manutenção da idade para obter a aposentadoria integral, que o governo quer passar de 65 para 67 anos.
O secretário-geral da Confederação Geral do Trabalho (CGT), Bernard Thibault, diz que, se o governo não reagir, acenando para mudanças no projeto, haverá novas greves.
Pesquisas de opinião mostram que dois terços dos eleitores acham que a proposta de Sarkozy de aumentar a idade de aposentadoria é injusta e apoiam o protesto, mas dois terços também acham que as greves não farão nenhuma diferença.
Apesar da grande participação, alguns reclamam dos problemas causados. "Estou farta destes preguiçosos", reclamou Virginie, 25, estudante.
Face à mobilização, o governo poderá fazer alguns acenos. Hoje, o presidente Sarkozy deve se pronunciar sobre o assunto, de acordo com anúncio feito por Woerth.