A França reiterou nesta segunda-feira (21) que considera "totalmente inaceitável" a espionagem a que foram submetidas dezenas de milhões de comunicações no país pelos Estados Unidos, ao qual reivindicou "uma resposta concreta" e rápida que demonstre que as práticas foram suspensas.
"Pedimos que seja apresentada o mais rápido possível uma resposta concreta para nossa preocupação", declarou o porta-voz do Ministério, onde foi convocado nesta manhã o embaixador dos Estados Unidos na França, Charles Rivkin.
O porta-voz disse que Rivkin foi recebido pelo diretor de gabinete do titular das Relações Exteriores, Laurent Fabius, que amanhã recebe o secretário de Estado dos Estados Unidos, John Kerry, com o qual abordará a mesma questão, além de outras do cenário internacional.
O embaixador foi convocado depois que o jornal Le Monde publicou uma informação em que relata que os Estados Unidos interceptaram 70,3 milhões de comunicações enviadas da França em 30 dias entre o fim de 2012 e o início de 2013.
O departamento francês das Relações Exteriores assegurou que lhe lembraram que "esse tipo de prática entre parceiros era totalmente inaceitável e que temos que nos assegurar de que já não perduram".
Quanto à reunião de Fabius com Kerry, programada às 7h locais em Paris (3h de Brasília), estava previsto que se dedicasse "essencialmente à situação na Síria e às questões regionais", mas o porta-voz francês das Relações Exteriores reconheceu que o caso da espionagem "será igualmente abordado".
A França lembrou que desde que vieram a público as primeiras revelações sobre a espionagem em massa dos Estados Unidos a seus parceiros, havia proposto aos outros membros da União Europeia incluir nas negociações comerciais abertas com Washington um capítulo sobre a proteção de dados.
O resultado foi a criação de um grupo de trabalho EUA-UE que começou em julho e já se reuniu duas vezes.
Paris afirmou que o Conselho Europeu de quinta-feira e da próxima sexta-feira, dedicado em boa parte à economia digital "permitirá elevar essa questão ao mais alto nível, o dos chefes de Estado e de governo".
"Não pode haver um bom funcionamento da economia digital sem garantia eficaz dos dados pessoais", argumentou o Ministério das Relações Exteriores.
Segundo Le Monde, que cita documentos da Agência de Segurança Nacional dos EUA (NSA) divulgados pelo ex-técnico Edward Snowden, os principais objetivos da espionagem americana na França eram pessoas suspeitas de ter vínculos com atividades terroristas, mas também outras relacionadas com o mundo empresarial e dos negócios, como políticos ou funcionários.
O dispositivo de espionagem consistia na gravação automática das conversas e das mensagens quando um determinado número de telefone era ativado em uma lista selecionada.
Os SMS também eram captados quando incluíam algumas palavras-chave. Além disso, fazia-se o registro histórico das conexões de cada número definido como alvo.
Le Monde lembrou que a França não foi o país mais espionado de forma ilegal pelo número de comunicações capturadas pelos Estados Unidos, já que, na Europa, a Alemanha foi mais.