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pela primeira vez

França reconhece uso de tortura na Guerra de Argélia

Presidente francês Emmanuel Macron caminha ao lado de Michele Audin, filha do falecido Maurice Audin, emf rente à casa de Josette Audin, viúva de Audin, em 13 de setembro de 2018 em Bagnolet | THOMAS SAMSONAFP
Presidente francês Emmanuel Macron caminha ao lado de Michele Audin, filha do falecido Maurice Audin, emf rente à casa de Josette Audin, viúva de Audin, em 13 de setembro de 2018 em Bagnolet (Foto: THOMAS SAMSONAFP)

O governo da França reconheceu pela primeira vez nesta quinta-feira (13) que agentes das Forças Armadas do país torturaram militantes do movimento independentista durante a Guerra da Argélia (1954-1962).

Em carta enviada à viúva de um matemático pró-secessão que o Estado agora admite ter sido torturado, o presidente Emmanuel Macron escreve que "a morte [de Maurice Audin] foi tornada possível por um sistema legalmente constituído de detenções, [...] que contribuiu para desaparecimentos e permitiu a tortura para fins políticos".

Em 1956, diante da resiliência da insurreição separatista na colônia, o Parlamento francês concedeu poder de polícia ao Exército tricolor.

Seria o início da fase mais violenta do conflito, que Paris chamava até recentemente de "operação de restabelecimento da ordem", apesar do saldo vultoso de vítimas: pelo menos 300 mil do lado argelino, 28 mil na caserna francesa e mais 3.000 entre a população europeia do país naquele momento.

Na carta endereçada a Josette Audin, que hoje tem 87 anos, Macron diz ainda que, "ao falhar na prevenção e na punição do recurso à tortura, os governos sucessivos [da França] puseram em perigo a vida dos homens e mulheres que as forças de ordem apreendiam".

O presidente também insta seus compatriotas a revisitar o enfrentamento com a Argélia "com coragem e lucidez".

Para não melindrar os militares franceses, o presidente, apesar de falar em "sistema" que incluía a tortura, saúda a "todos os franceses, civis ou militares, que se distanciaram dela e que, ontem como hoje, recusam-se a ser emparelhados com aqueles que a instituíram e a praticaram".

Maurice Audin tinha 25 anos quando desapareceu, em junho de 1957, em Argel. Membro do partido comunista local, ele era suspeito de colaborar com a Frente de Libertação Nacional, independentista. Deixou três filhos e a viúva.

Em 2014, o então presidente francês François Hollande havia reconhecido que o matemático não desaparecera, mas sim que morrera na prisão. Seu antecessor, Nicolas Sarkozy, nem sequer respondera a uma primeira carta da viúva de Audin, enviada 11 anos atrás.

Nesta quinta, além de divulgar o teor da resposta à correspondência de Josette, o governo Macron determinou a abertura dos arquivos estatais que tratam dos desaparecidos na Guerra da Argélia.

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