Resultados eleitorais enfraqueceram o apoio ao bloco do presidente da França, Emmanuel Macron| Foto: EFE/EPA/LUDOVIC MARIN / POOL MAXPPP OUT
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Com a Assembleia Nacional francesa como um quebra-cabeça político e a esquerda na liderança, mas longe de uma maioria absoluta, os partidos estão à procura de um primeiro-ministro capaz de reunir apoio suficiente para governar sem ser derrubado por uma moção de censura.

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Boa parte dos deputados da Nova Frente Popular (NFP) eleitos no domingo (7) desfilou pela câmara nesta terça-feira (9) para receber suas credenciais: o Partido Socialista (PS), o mais radical A França Insubmissa (LFI), os ecologistas e o Partido Comunista Francês (PCF).

A coalizão de esquerda tem insistido que o novo primeiro-ministro deve vir de suas fileiras e prometeu apresentar um candidato nesta semana.

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No entanto, o grupo enfrenta duas grandes dificuldades: uma interna, devido ao equilíbrio de poder entre seus diferentes componentes para decidir de onde virá o primeiro-ministro; e uma externa, devido à necessidade de reunir apoio para governar e sobreviver a possíveis moções de desconfiança.

A maioria absoluta é de 289 parlamentares, muito distante dos 182 alcançados pela NFP, aos quais poderiam ser acrescentados vários parlamentares independentes de esquerda.

O bloco macronista ficou com 168; a direita nacionalista e seus aliados, 143; e os conservadores de Os Republicanos e os independentes de direita somaram 60. A esses se somam algumas cadeiras para outros partidos menores ou vários independentes.

Neste contexto, a NFP garantiu, por meio do socialista Boris Vallaud (um dos nomes mais citados para liderar o governo), que "muitos" se identificam com as medidas de "urgência social" contidas no programa conjunto que a esquerda apresentou no início da campanha, incluindo os que estão no campo do presidente, Emmanuel Macron.

Em entrevista à BFMTV, Vallaud afirmou nesta terça que "a Nova Frente Popular pode governar para tomar essas medidas", com o apoio de uma Assembleia Nacional que afirmará o espírito de uma "frente republicana" contra a direita nacionalista.

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Em sua opinião, as decisões urgentes que a coalizão de esquerda tomaria, como o aumento do salário mínimo ou medidas para melhorar o poder de compra dos franceses, não deveriam provocar uma moção de censura.

Entre os ecologistas, sua secretária nacional, Marine Tondelier, argumentou que é mais importante aprovar o programa do que a questão de quem ocupa qual cargo.

Nomes socialistas como Vallaud e o primeiro secretário, Olivier Faure, têm mais chances de gerar apoio para o cargo de primeiro-ministro do que um candidato do LFI. Mas a NFP enfrenta o dilema de que a maior família na Assembleia é justamente a do LFI.

Rejeição a Mélenchon

No entanto, no campo macronista, é muito grande a resistência em apoiar um governo que inclui, e que ainda poderia ser liderado, pela França Insubmissa de Jean-Luc Mélenchon.

"Não queremos trabalhar com A França Insubmissa, que há anos vem demonstrando que prefere fazer com que a Assembleia não funcione, em vez de fazê-la funcionar. Há forças em todo o espectro político republicano que podem trabalhar juntas", disse nesta terça-feira Roland Lescure, ministro de Estado da Indústria e Energia.

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Agnès Panier-Runacher, ministra da Transição Energética, disse que "é muito provável que a coalizão esteja em algum lugar entre a direita razoável e a esquerda responsável".

Vallaud respondeu ao macronismo que os integrantes do A França Insubmissa desistiram de suas candidaturas para favorecer os candidatos macronistas em distritos eleitorais onde a direita de Marine Le Pen estava na liderança.

"Se quisermos unir o país, não podemos excluir", disse o líder do grupo socialista na Assembleia.

Mas Mélenchon é uma figura altamente polêmica mesmo dentro da NFP. E, embora ele mesmo não tenha se descartado definitivamente como primeiro-ministro, prometeu "ser parte da solução e não parte do problema", em uma entrevista à emissora de televisão LCI na noite passada.

No entanto, deixou claro que o LFI apresentará nomes para ocupar Matignon (a residência do primeiro-ministro), como a chefe do grupo na Assembleia, Mathilde Panot, ou o coordenador do partido, Manuel Bompard.

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"Exigimos que Emmanuel Macron respeite o voto popular, escolhendo nomear um primeiro-ministro da Nova Frente Popular", insistiu Panot ao chegar à Assembleia nesta terça.

Por sua vez, figuras macronistas da direita conservadora, como o ministro do Interior, Gérald Darmanin, disseram que a escolha deveria ser diferente, mais voltada para a "direita republicana", embora essa parte do arco parlamentar também não consiga obter uma maioria absoluta sem incluir a direita de Le Pen.

Gabriel Attal apresentou nesta segunda (8) sua renúncia do cargo de primeiro-ministro ao presidente da França, Emmanuel Macron, após ver seu grupo perder a maioria relativa com que vinha governando.

No entanto, Macron rejeitou o pedido e o encarregou de permanecer provisoriamente na posição para garantir a estabilidade enquanto um novo governo é formado após as eleições legislativas.

Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]
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