Os arquivos diplomáticos que a França e a Grã-Bretanha abriram por ocasião dos 20 anos da queda do Muro de Berlim revelaram que Paris e Londres, dirigidos então por Francois Mitterrand e Margaret Thatcher, respectivamente, eram contrários ao surgimento de uma Alemanha reunificada. Os documentos demonstram uma falta de percepção francesa sobre a mudança que estava por ocorrer na República Democrática (RDA) e na República Federal alemãs. Assim demonstra uma carta que o então presidente francês, Francois Mitterrand (1981-1995), enviou ao presidente da RDA, Egon Krenz, que, em outubro de 1989, havia substituído o renunciante Erich Honecker.
"Esteja certo de que a França considerará favoravelmente (...) as perspectivas de desenvolvimento das relações da República Democrática Alemã com a Comunidade Europeia", afirmou o socialista Mitterrand em 24 de novembro de 1989, quatro dias antes que o chanceler alemão Helmut Kohl apresentasse um plano de dez pontos visando à reunificação.Os arquivos franceses também permitem constatar a clara hostilidade à reunificação por parte da então primeira-ministra britânica, a conservadora Margaret Thatcher (1979-1990). "A Alemanha, que já é temível no plano econômico, se converterá na maior potência da Europa", afirmou a "Dama de Ferro".
"França e Alemanha devem se aproximar ante o perigo alemão", dizia Thatcher, para quem "apenas a Rússia poderia ser um contrapeso mais poderoso" que a Alemanha. A mudança de fronteiras e o desenvolvimento posterior "quebraria a estabilidade da situação internacional", argumentava Thatcher. Essa mesma desconfiança era compartilhada por Mitterrand. Em 20 de janeiro de 1990, ao receber Thatcher no Eliseu, Mitterrand transmitiu à colega sua preocupação sobre uma Alemanha reunificada, que poderia "ganhar mais terreno ainda que o acumulado por Hitler", segundo os arquivos de Londres.