Paris A Assembléia Nacional da França deve criar uma comissão parlamentar de inquérito para investigar se um acordo de venda de armas e equipamentos de segurança para a Líbia está vinculado à libertação de cinco enfermeiras búlgaras e um médico palestino que estavam presos no país africano.
A criação da CPI, solicitada pelo presidente da Assembléia, Bernard Accoyer, atende a um pedido que a oposição socialista ao governo do presidente Nicolas Sarkozy já vinha fazendo desde que se descobriu o negócio da venda de material bélico, que inclui mísseis antitanque.
A pressão pelas investigações começou na quarta passada, quando Seif al Islam, filho do ditador líbio, Muammar Gaddafi, deu detalhes sobre a negociação para a soltura do grupo. Os seis estavam presos havia oito anos e foram condenados à morte, sob acusação de haverem contaminado mais de 426 crianças com o HIV que, segundo especialistas, foram infectadas devido à falta de higiene do hospital.
A França intermediou, com a União Européia, as negociações de sua libertação. O pagamento foi feito por "uns 20 países, segundo Trípoli, e os médicos foram liberados em 24 de julho último.
A Líbia não mencionou a França como um dos países que pagaram indenização, mas, du-rante as negociações, Sarkozy reativou um acordo nuclear de 2006 pelo qual a França venderá à Líbia reatores para a produção de energia elétrica.
Segundo Islam, o contrato de compra de material bélico foi incluído no acordo para a soltura dos búlgaros. Ato contínuo, o governo francês desmentiu Islam. Mas ontem admitiu a existência do contrato da venda das armas, embora negue que ele tenha sido parte do acordo de libertação dos médicos. Segundo o Ministério da Defesa da França, a venda já estava sendo discutida havia meses. O negócio é de cerca de US$ 400 milhões.
Esse é o primeiro contrato de compra e venda de armas entre a Líbia e um país europeu desde 2004. Antes acusada de patrocinar ações terroristas, a ditadura de Muammar Gaddafi anunciou em 2003 que abria mão de manter armas de destruição em massa e vem desde então se aproximando dos governos ocidentais.