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Reforma

França vai dizer “quem quer e quem não quer acolher” em nova lei sobre imigração

Migrantes se reúnem em um acampamento temporário montado por uma ONG francesa em frente ao Conselho de Estado (Conseil d"Etat) em Paris, França, em 3 de dezembro de 2022 (Foto: EFE)

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A França prepara uma nova lei para 2023 sobre imigração, um tema sensível e recorrente no país. Nesta semana, o governo de Emmanuel Macron apresentou aos parlamentares das diversas legendas quais são as ideias iniciais desse projeto de lei que deverá executar com mais força a expulsão de imigrantes que estão enquadrados na “obrigação de deixar o território” (OQTF, na sigla em francês), especialmente os que estão relacionados a delitos.

Em contrapartida, está previsto facilitar a regularização de trabalhadores de áreas que estão com falta de mão de obra. O ministro do Trabalho, Olivier Dussopt, confirmou que o texto permitiria aos trabalhadores irregulares “já presentes no território” obter uma “permissão de moradia temporária”. “Esse não é um plano de regularização em massa, mas uma solução dada para aqueles que já estão aqui, que trabalham há muito tempo e que possivelmente se tornaram irregulares devido à complexidade das formalidades ou acidentes de viagem”, descreveu.

De acordo com o ministro do Interior, Gérald Darmanin, a intenção é “afastar os que devem ser afastados e integrar melhor aqueles que têm vocação de permanecer no território”.

A primeira-ministra do país, Élisabeth Borne, revelou o mesmo interesse: “A França é e continuará fiel à sua tradição de asilo, mas ela deve dizer quem quer e quem não quer acolher”, destacou. Ainda assim, Borne observou que não se deve fazer uma relação entre imigração e delitos.

Objetivo antigo 

Em outubro de 2019, Macron, em entrevista ao periódico Valeurs actuelles, foi questionado sobre seu objetivo de cumprir as OQTF. O presidente disse, então, que queria “tirar todas as pessoas que não têm nada para fazer”. “Quantas?”, insistiu o jornalista. “100%”, respondeu Macron.

Mais de três anos se passaram e, de acordo com os últimos números oficiais, apenas 8,25% dos OQTFs pronunciados em 2021 foram executados. A pressão sobre o governo ressurgiu após o assassinato de uma menina de 12 anos, crime cuja principal suspeita é uma mulher argelina alvo de uma OQTF não executada. 

Dahbia B., argelina de 24 anos, foi indiciada por homicídio qualificado e estupro. Ela entrou na França legalmente em 2016 com visto estudantil, mas desde agosto tinha a "obrigação de deixar o território francês".

Nas discussões sobre o caso, Jordan Bardella, líder do partido Reagrupamento Nacional, o mesmo de Marine Le Pen, discursou no Parlamento Europeu sobre o assassinato da menina estar relacionado à falta de controle de imigrantes. "Lola ainda estaria viva se nossa política de migração não fosse tão caótica e fora de controle", declarou.

A deputada Le Pen chegou a dizer, diante da primeira-ministra do país, Elisabeth Borne, que Dahbia B. "não deveria estar em nosso território há mais de três anos".

Oposição 

Antes mesmo da conclusão do projeto que pretende intensificar a execução das expulsões de imigrantes irregulares, a oposição critica as mudanças planejadas pela gestão de Macron.

A direita francesa enxerga problemas na proposição do governo, apontando um excesso de regularização sobre a imigração e a abertura a trabalhadores irregulares. Já a extrema-esquerda reclama do reforço à expulsão de imigrantes.

As críticas ganham eco fora do Parlamento. “Com mais de 20 textos de lei em 30 anos, a França continua adotando medidas cada vez mais repressivas”, denunciou um coletivo de associações, incluindo a Anistia Internacional, a Cimade e o Secours Catholique.

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