Paris No dia 23 de outubro de 1956, duas manifestações estudantis em Budapeste transformaram-se em gigantesca concentração para exigir a saída do país das tropas soviéticas, assim como eleições democráticas e a liberdade de expressão. A revolta húngara havia começado. Doze dias mais tarde, no entanto, seria esmagada de forma sangrenta pela então URSS.
Um viajante francês que conseguiu sair da Hungria dias depois da insurreição, fez um relato dos acontecimentos à imprensa. A íntegra da versão foi divulgada no dia 28 de outubro de 1956.
"No dia 23 de outubro, a situação era extremamente confusa. As manifestações aconteciam um pouco por toda a capital húngara, animadas pelos estudantes. A população vivia à espera de um acontecimento. Alguns grupos estavam convencidos de que Imre Nagy, ex-premier reabilitado, retornaria ao poder de um momento a outro", diz o relato.
"À tarde, Erno Gero, o braço direito de Rakosi e seu sucessor na liderança do partido, voltou de Belgrado. Horas depois tomava a palavra na rádio local. Mas, em vez de anunciar as mudanças esperadas pela população, fez um apelo à vigilância. No dia seguinte, da janela de meu hotel, na ilha Santa Margarita, via desfilar as unidades russas com tanques e metralhadoras. Pouco depois, os soldados soviéticos atacaram o hotel Astoria, onde haviam se refugiado numerosos insurgentes", prossegue o texto.
Segundo o francês, só nessa batalha houve centenas de mortos de uma parte e outra, enquanto os tiros de morteiro choviam por toda a cidade. Os combates, cada vez mais encarniçados, duraram toda a noite. Depois de várias horas, os soviéticos conseguiram controlar o Astoria.