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 | Philippe Laurenson/Reuters
| Foto: Philippe Laurenson/Reuters

A pouco mais de um mês das eleição presidencial da França, um clima de desilusão com os rumos da quinta maior economia do mun­­do tomou conta do país. Que o diga Danyelle Bidault, de 57 anos. No rastro da crise, essa secretária acaba de ser tragada para a base da pirâmide: de classe média, caiu para a categoria de trabalhadora pobre. "Estou revoltada em ter chegado a este ponto, mas há certamente gente pior", consola-se a moradora de Montpellier.

A França deste início de 2012 é um país confuso sobre o seu ru­­mo, incerto sobre seu modelo e seu papel na Europa. Nicolas Sarkozy, do UMP, partido de centro-direita, eleito em 2007 com a promessa de reformar o país, corre o risco de juntar-se à longa lista de líderes derrotados pela crise, como Gordon Brown, do Reino Unido, Georges Papandreou, da Grécia, José Luis Rodríguez Za­­patero, da Espanha, e José Só­­cra­­tes, de Portugal.

A economia francesa foi uma das poucas na Europa a não cair em recessão em 2011. Mas o país acaba de perder um dos seus três ‘A’ no mercado — isto é, aos olhos das agências que medem risco, já não é um país tão sólido quanto antes. Enquanto isso, os candidatos à Presidência — de Sarkozy, à direita, passando por François Hollande, à esquerda, até os extremos da direita, como Marine Le Pen, e da esquerda, como Jean-Luc Mélenchon, partem para uma batalha pela classe média, que se sente ameaçada.

Fome

Em 2009, 13,5% dos franceses viviam abaixo da linha de pobreza (com menos de 954 euros ao mês). A secretária Danyelle passou este ano a integrar a categoria, que aumenta de tamanho. Quando chegou ao ponto de sair para trabalhar só com café no es­­tômago e comer uma vez ao dia, ela deixou o orgulho de lado e bateu na porta da Resto du Cœur, organização fundada por um humorista parisiense, que distribui 109 milhões de pratos de comida por ano aos po­­bres da França. Christiane Gas­­kowiak, voluntária da associação, se lembra bem do dia em que ela foi pedir ajuda. "Ela chegou chorando, numa situação muito difícil. Antes, era doadora da associação."

Danyelle caiu na precaridade depois de uma separação. Ela sustentava três filhos com 800 euros por mês: Ombeline, de 14 anos, Timon, de 20 anos, e Philemon, o único que trabalha, de 23 anos. Aos 57 anos, ela voltou a estudar na esperança de virar professora e sair da pobreza.

Desiludidos, ela e o filho não querem comparecer às urnas. "O ser humano não tem a capacidade de governar. Eu não tenho mais nenhuma ilusão", diz Danyelle.

O filho completa: "Não sei se vou votar. Eu me pergunto: como é que as pessoas ainda continuam a se iludir [com os políticos]?"

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