Paris - Do lado de fora, milhares de estudantes secundaristas e universitários clamavam ontem por "resistência" frente à reforma da previdência em curso na França. Mas dentro do Palácio de Luxemburgo, em Paris, os senadores se mostraram indiferentes ao apelo das ruas. Por 177 votos a favor e 151 contra, o Senado aprovou, em segundo turno, o aumento da idade mínima de aposentadoria no país de 60 para 62 anos. Hoje, a Assembleia Nacional deve confirmar seu aval, mas a promulgação da lei pelo presidente Nicolas Sarkozy deverá esperar mais um pouco.
O debate no Legislativo, o mais longa da história da 5.ª República, inaugurada em 1958, marcou a adoção definitiva da nova legislação previdenciária pelo Senado. O mesmo caminho seguirá a Assembleia Nacional, cujos deputados se reúnem na tarde de hoje no Palácio de Bourbon. Ainda assim, deputados e senadores do Partido Socialista (PS) anunciaram ontem que questionarão a nova lei no Conselho Constitucional, o órgão que verifica a validade das novas legislações. Com isso, a promulgação da reforma da previdência não acontecerá antes de 15 de novembro.
Nesse meio tempo, sindicatos de trabalhadores e uniões estudantis prometem manter a pressão sobre o governo Sarkozy. Ontem, em frente ao Senado, milhares de jovens secundaristas e universitários se reuniram para protestar contra a reforma. Entre eles, estava Jean-Baptiste Redde, 53 anos, poeta e professor de escolas públicas cujos cartazes de contestação à nova lei correram o mundo. "É preciso continuar a protestar. Somos obrigados a mostrar a nossa cólera contra um governo que se recusa a ouvir o povo", argumentou.
A ideia de resistência também norteia os estudantes, que se mobilizaram em meio às férias de outono na França. Todos ainda dizem acreditar ser possível obrigar o governo a recuar. "Ainda há um voto na Assembleia Nacional. Quem sabe ainda podemos reverter o resultado desse projeto", afirmou Maud J., estudante de Letras. A seu lado, Cédric D., 21 anos, estudante de História, buscava na memória do país a esperança de impedir a entrada em vigor da lei. "É possível. Já evitamos a entrada em vigor do Contrato de Primeiro Emprego (CPE), aprovada no parlamento em 2003. Precisamos continuar."
Essa mesma lógica move os sindicatos, que ontem mantiveram a convocação para uma nova jornada de manifestações contra a reforma, marcada para amanhã. No entanto, os sindicalistas já planejam obter do governo medidas para fomentar o emprego de jovens e de seniores, os trabalhadores acima de 55 anos, após o esgotamento dos atuais protestos.
"A melhor coisa que podemos fazer é abrir negociações entre o patronato e as organizações sindicais sobre o emprego de jovens e seniores", afirmou François Chérèque, secretário-geral da Confederação Francesa Democrática do Trabalho (CFDT).