A França convive com a incerteza neste primeiro turno da eleição presidencial mais imprevisível em décadas e que aconteceu sob forte vigilância policial poucos dias depois de um novo atentado. A votação começou às 8h locais (3h de Brasília) e as urnas foram fechadas às 20h locais (15h de Brasília).
As estimativas de voto já são divulgadas logo após o encerramento da votação. As primeiras amostragens indicam que o candidato centrista Emmanuel Macron lidera o pleito no primeiro turno com 23,7%, seguido de Marine Le Pen, a candidata da extrema-direita, com 21,7%. Na sequência, aparecem o conservador François Fillon, com 19,5%, e o esquerdista Jean-Luc Mélenchon, com 19,5% também.Benoît Hamon, do partido do atual presidente, François Hollande, ficou apenas na quinta colocação, com 6,2% do votos.
Esses números são baseados em amostras representativas do próprio pleito, submetidas a um sistema de controle de coerência, e não em sondagens prévias nas urnas. O resultado oficial será divulgado pelo Ministério do Interior.
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Estas são as eleições de resultado mais imprevisível da história recente da França, com uma pequena diferença nas pesquisas entre quatro candidatos e um elevado nível de indecisão dos eleitores.
O centrista Emmanuel Macron e a líder de extrema-direita Marine Le Pen lideravam as pesquisas de intenção de voto publicadas nas sexta-feira, mas o conservador François Fillon e o candidato da esquerda radical Jean-Luc Mélenchon estavam muito próximos.
A diferença entre eles é tão curta que está dentro da margem de erro, o que significa que qualquer um dos quatro pode passar ao segundo turno.
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Quase todos os candidatos votaram durante a manhã. Emmanuel Macron, acompanhado da esposa Brigitte, depositou o voto em Touquet (norte) e Marine Le Pen em reduto eleitoral de Hénin-Beaumont, também na região norte do país.
Marine Le Pen, líder da Frente Nacional (FN), de 48 anos, espera beneficiar-se da onda populista que resultou na vitória de Donald Trump nos Estados Unidos e o voto a favor da saída do Reino Unido da União Europeia (UE).
Com um programa centrado no “patriotismo” e na “preferência nacional”, Le Pen defende a saída do euro e da UE, promessas que, caso cumpridas, poderiam representar um golpe fatal a um bloco já fragilizado pelo Brexit.
Macron, ex-ministro da Economia do presidente socialista François Hollande, fez uma campanha com um programa abertamente europeísta e liberal.
O ex-executivo do setor bancário, praticamente desconhecido há apenas três anos e que nunca disputou uma eleição, pode se tornar, aos 39 anos, o presidente mais jovem da França.
Sobressaltos
A reta final da campanha foi abalada por um atentado na emblemática avenida Champs Elysées de Paris, em um país traumatizado por uma onda de ataques jihadistas que deixaram mais de 230 mortos desde 2015.
Apesar da dificuldade de medir o impacto do ataque, alguns analistas acreditam que poderia reduzir a brecha na intenção de voto entre os principais candidatos.
A campanha foi atípica. Com uma impopularidade recorde, Hollande não tentou disputar um novo mandato, algo nunca visto na França em mais de 60 anos.
O primeiro-ministro Manuel Valls foi eliminado nas primárias do Partido Socialista por um candidato mais à esquerda, Benoît Hamon.
A campanha também foi marcada pelos problemas judiciais de vários candidatos, o que relegou ao segundo plano o debate das questões importantes, principalmente econômicas, em um país taxa de desemprego próxima de 10%.
O conservador François Fillon perdeu a condição de favorito depois que a imprensa revelou que sua esposa, Penelope, e dois de seus cinco filhos se beneficiaram de empregos públicos supostamente fictícios, pelos quais receberam centenas de milhares de euros.
Indiciado por desvio de recursos públicos e apropriação indébita de bens sociais, Fillon, que alega inocência, não abriu mão da candidatura, apesar das várias deserções ao seu redor.
Marine Le Pen também é objeto de uma investigação por supostos empregos fictícios no Parlamento Europeu, onde ocupa uma cadeira de eurodeputada, e por supostas irregularidades no financiamento de campanhas passadas. Ao contrário de Fillon, se nega a ser interrogada pela justiça, invocando sua imunidade.
A última surpresa veio da esquerda radical. Mélenchon, um ex-socialista que virou o símbolo do partido “França Insubmissa”, subiu nas pesquisas e se aproximou de Fillon.
Mélenchon, que já elogiou Hugo Chávez e Fidel Castro, afirmou que está disposto a sair da UE se o bloco não encerrar a política de austeridade.
Atentado
Karim Cheurfi, um criminoso reincidente de 39 anos, abriu fogo na quinta-feira (20) à noite na movimentada avenida comercial e matou um policial, além de ter deixado outros dois feridos, antes de ser abatido pelas forças de segurança. O grupo Estado Islâmico (EI) reivindicou o ataque.
Apesar da dificuldade de medir o impacto do ataque na eleição, alguns analistas acreditam que poderia reduzir a brecha nas intenções de voto entre os principais candidatos.
“Se beneficiar alguém seria Marine Le Pen, que concentrou sua campanha na segurança, ou François Fillon por sua estatura presidencial”, afirmou Adélaïde Zulfikarpasic, diretora do instituto de pesquisas BVA. Os políticos consideram “provável” um comparecimento às urnas maior que o esperado em reação ao ataque.
Vigilância máxima
A campanha oficial terminou na sexta-feira (21) à meia-noite (horário local), o que proíbe a imprensa de divulgar pesquisas ou declarações dos candidatos até o fim do horário de votação no domingo.
Em um clima de tensão máxima, o presidente socialista François Hollande afirmou que o governo não poupará recursos para garantir a segurança dos eleitores.
“Nada deve prejudicar o encontro democrático”, afirmou o primeiro-ministro Bernard Cazeneuve.
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