Uma França em crise de confiança e de identidade vai neste domingo às urnas escolher quem governará o país no lugar de Jacques Chirac, que ficou 12 anos no poder. No cardápio, tirando as diferenças no programa de cada candidato, os franceses terão que escolher entre dois modelos: o atual - mais social, assistencialista, estatal, mas que está em crise -, ou um mais liberal.
Doze candidatos estão na disputa. Mas, na realidade, a escolha é entre quatro. Por ordem de preferência nas sondagens, são: Nicolas Sarkozy , da UMP, partido da direita, que diz que os franceses precisam trabalhar mais para sair da morosidade econômica; Ségolène Royal , do Partido Socialista, que propõe relançar a economia, mas mantendo o "modelo francês", que limita o trabalho em 35 horas semanais; François Bayrou , do UDF, de centro, que oscila entre direita e esquerda; e o extremista da direita Jean-Marie Le Pen , a ruptura total.
Como nenhum tem maioria, a batalha deste domingo será pela escolha dos que irão disputar o segundo turno, em 6 de maio. A França não esqueceu o trauma de 2002, quando Le Pen derrubou o socialista Lionel Jospin e se classificou para o segundo turno. Foi surpresa total. Assustados, os franceses votaram em massa em Jacques Chirac. Nenhum instituto de pesquisa detectou a ascensão de Le Pen. Por um motivo: seu eleitorado, por temer perseguição, só se revela nas urnas.
Muitos querem um confronto entre esquerda e direita no segundo turno. Pelo menos assim, argumentam, a eleição será o confronto de idéias, entre dois modelos. E se Ségolène Royal não conseguir?
- Matematicamente, o risco existe. Tudo pode acontecer nesta eleição. Ninguém tem condições de fazer prognósticos - disse Fabrice Tarrit, da Survie, que é parte de uma rede de ONGs francesas que interpelou todos os candidatos.
A França, sexta maior economia industrial do mundo, acaba de bater o recorde de velocidade do TGV (trem de grande velocidade, 575km/h) e suas maiores empresas cotadas no CAC 40 (principal índice da Bolsa de Paris) estão batendo recorde de lucro. Mas os indicadores econômicos do país mostram que o "modelo francês" está desgastado. A França teve um crescimento medíocre nos últimos anos (média de 1,5%). A taxa de desemprego - entre 9% e 10% - é das mais altas da Europa. Os salários estagnaram em termos reais e a dívida pública cresceu mais do que nos vizinhos europeus, batendo hoje 66% do Produto Interno Bruto (PIB). E, nos últimos 25 anos, a França passou do 7º ao 17º lugar no mundo em PIB per capita.