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Chefe de segurança do presidente Luis Lacalle Pou foi preso por suspeita de coordenar um esquema de falsificação de documentos para que russos obtivessem cidadania uruguaia
Chefe de segurança do presidente Luis Lacalle Pou foi preso por suspeita de coordenar um esquema de falsificação de documentos para que russos obtivessem cidadania uruguaia| Foto: EFE/Alejandro Prieto

Um escândalo que bate à porta da presidência abala o Uruguai desde a última semana de setembro.

No último dia 25, o então chefe de segurança do presidente Luis Lacalle Pou, Alejandro Astesiano, foi preso por suspeita de liderar um esquema de falsificação de documentos para que pessoas da Rússia obtivessem cidadania uruguaia.

Parte da coordenação do esquema seria feita no quarto andar da sede da presidência do Uruguai, onde ficava o escritório de Astesiano, que prestava serviços para a família do presidente desde 1999.

Segundo as primeiras informações, cidadãos russos enviavam suas certidões de nascimento, e funcionários de órgãos de identificação locais envolvidos na fraude alteravam os documentos para incluir nomes de supostos pais ou avós uruguaios – o que lhes permitia obter a cidadania.

As investigações ainda apuram a abrangência da fraude e há quanto tempo ela estava em funcionamento, mas a procuradora Gabriela Fossati estimou que “milhares” de documentos podem ter sido falsificados.

“Astesiano intervinha tanto como tradutor [no esquema] ou como organizador e conseguia os clientes, acertava o valor da sua participação, pagava o tabelião e indicava aos interessados os passos a serem seguidos”, detalhou Fossati. Um escrivão uruguaio e dois cidadãos russos (que trabalhavam como recrutadores dos interessados) também foram denunciados.

A motivação para obter a cidadania uruguaia ainda não está clara, mas duas suspeitas são a utilização dos passaportes para entrada na Europa, com o objetivo de desenvolver atividades criminosas com quadrilhas que operam no Velho Continente, ou para lavar dinheiro em bancos uruguaios.

Na semana passada, a imprensa local revelou que um casal de russos entrou no Uruguai em junho de 2021, autorizado pelo secretário da presidência, Álvaro Delgado, e obteve a cidadania uruguaia três meses depois.

Apesar da chegada de estrangeiros estar proibida à época devido à pandemia, ambos foram beneficiados por um decreto que permitiu a entrada de 43 pessoas no país, entre elas empresários, trabalhadores em grandes obras e produtores audiovisuais.

O casal russo estaria interessado em investir em uma obra hidroviária no departamento de Colônia, além de construir um cassino e um shopping center. As investigações apuram se ambos estavam inseridos no esquema de Astesiano.

Ex-chefe de segurança tinha condenação por fraude

O esquema foi descoberto depois que um funcionário da Direção Nacional de Identificação Civil percebeu alterações em certidões de nascimento. Uma investigação interna apontou que russos, venezuelanos, cubanos e uruguaios estariam envolvidos nas fraudes.

Quando Astesiano foi preso, Lacalle Pou se disse surpreso e que havia recebido a informação de que seu chefe de segurança não teria antecedentes criminais. “Vocês sabem como age o presidente de todos os uruguaios. Se houvesse algum indício, não teria confiado a ele [Astesiano] o bem mais precioso que tenho, que é a minha família”, afirmou o presidente.

Ao fim, foi revelado que Astesiano tinha antecedentes, entre eles uma condenação em 2014 por fraude, devido a um esquema em que alugaria casas de veraneio em Punta del Este que não existiam – o ex-chefe de segurança de Lacalle Pou fazia a negociação pela internet, cobrava sinais das vítimas e depois sumia do mapa. Foi condenado a 18 meses de detenção, mas o tempo que passou em prisão provisória foi descontado e o processo foi suspenso.

Além das investigações que estão sendo feitas pelo Ministério Público Federal e pelo governo uruguaio, o Parlamento do país também quer apurar o assunto. A Frente Ampla, coalizão de oposição, quer convocar representantes do Ministério do Interior para prestar esclarecimentos ao Legislativo nos próximos dias.

O Partido Nacional, legenda de Lacalle Pou, se diz favorável a esses depoimentos. “Vamos votar o que eles [Frente Ampla] propõem e depois ouviremos as explicações do governo”, disse um senador do Partido Nacional ao jornal El País.

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