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São 552 metros de concreto estendidos sobre o rio Paraná. É o palco aberto de um jogo político encenado 24 horas por dia, de segunda a domingo, pelos governos do Brasil e do Paraguai. Na margem esquerda, escondendo as ruas de Foz do Iguaçu, ergue-se a fortaleza construída pela Receita Federal brasileira, rodeada por grades e arame farpado.

Na barranca direita, antecedendo Ciudad del Este, policiais e soldados paraguaios volteiam um modesto posto aduaneiro.

No meio sobra o tráfego nervoso de turistas, motoboys, "freteiros", "passeiros", "cigarreiros", "laranjas", "patrões" e "sacoleiros" — a multidão no alvo dos fiscais brasileiros.

Para os governos, a concentração de burocratas e armas na Ponte da Amizade é demonstração do poder estatal no controle do contrabando, do tráfico e da pirataria, atividades na tríplice fronteira freqüentemente relacionadas ao financiamento a grupos radicais islâmicos.

Em Foz, onde vivem 302 mil pessoas, 10% têm origem árabe, a repressão é crescente desde 2001. A Receita e a polícia optaram por concentrar a ação sobre os "sacoleiros" e as empresas do setor de serviços, todos dependentes do comércio com Ciudad del Este.

Seis em cada dez habitantes dependem da economia do chamado turismo de compras, informa o pesquisador Eric Gustavo Cardin, da Universidade Estadual Paulista Julio de Mesquita Filho, autor de uma tese sobre a degradação do mercado de trabalho na tríplice fronteira.

A economia regional está sufocada há um longo período. E o Brasil começou a perder espaço econômico para a China no mercado do Paraguai. Detalhe: Pequim sequer mantém relações diplomáticas com Assunção.

Foz vive uma etapa de decadência. Depois de quatro décadas de expansão, quando a população cresceu oito vezes, a cidade começa a observar um fluxo de migração rumo às zonas francas de Chile, Bolívia, Equador e Venezuela.

A crise destacou a cidade no "Mapa da Violência", divulgado pela Organização dos Estados Ibero-Americanos. Foz é campeã nacional de homicídios na juventude: 223,3 assassinatos para cada cem mil habitantes de 15 a 24 anos, entre 2002 e 2004.

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