Encontre matérias e conteúdos da Gazeta do Povo
Diplomacia

Fuga de senador boliviano derruba Patriota

Antonio Patriota entregou pedido de demissão após mal-estar causado dentro do governo | Ueslei Marcelino/Reuters
Antonio Patriota entregou pedido de demissão após mal-estar causado dentro do governo (Foto: Ueslei Marcelino/Reuters)
Senador Roger Molina dará entrevista hoje em Brasília |

1 de 2

Senador Roger Molina dará entrevista hoje em Brasília

 |

2 de 2

O ministro das Relações Ex­te­riores, Antonio Patriota, dei­xou o cargo ontem. Ele caiu após o diplomata brasileiro Eduardo Saboia patrocinar a fuga de La Paz para o Brasil do senador boliviano Roger Pinto Molina. Assume interinamente a pasta o embaixador Luiz Alberto Figueiredo Machado, representante do Brasil na Organização das Nações Unidas (ONU).

INFOGRÁFICO: Confira o caminho percorrido por Roger Molina

O Planalto informou que Patriota pediu demissão. Mas, segundo assessores presidenciais, Dilma ficou irritada ao ser pega de surpresa com a atuação de funcionários da Embaixada do Brasil na Bolívia no embarque do senador, condenado a um ano de prisão por corrupção. Ele ficou abrigado na embaixada do Brasil durante 455 dias, cerca de 15 meses. Isso fez com que a presidente demitisse o ministro. O diplomata Eduardo Saboia acabou afastado por tempo indeterminado.

Patriota foi chamado para uma conversa com a presidente no início da noite de ontem no Palácio do Planalto. A versão do Itamaraty é de que o governo não autorizou e nem sequer sabia da operação para retirar Molina do país vizinho. O senador não podia sair do prédio por falta de um salvo-conduto do governo boliviano.

Para George Sturaro, pro­­fessor de Relações Inter­­na­cionais do Centro Uni­ver­sitário Curitiba (Uni­curi­tiba), a relação entre Dilma e Patriota já estava desgastada havia tempo. "A retirada do senador é o suficiente para derrubar um chanceler que já não desfrutava de muita simpatia da Presidência", afirmou.

Explicações

Em nota diplomática de protesto enviada a Brasília, o chanceler da Bolívia, Da­vid Choquehuanca, exigiu explicações formais do Brasil pela fuga do senador.

Colaborou Thomas Rieger, especial para a Gazeta do Povo.

Novo chanceler nunca chefiou uma embaixada

Folhapress

Até a conferência ambiental Rio+20, o embaixador Luiz Alberto Figueiredo Ma­­chado (foto), que assumirá o posto de chanceler no lugar de Antonio Patriota, era praticamente um desconhecido fora do meio diplomático.

Seu papel como negociador-chefe da cúpula e seu atribuído sucesso para atingir um consenso entre potências, emergentes e países em desenvolvimento no documento final do encontro, ocorrido em junho de 2012, catapultaram seu nome entre os países mais envolvidos no debate. E no Planalto.

Seu bom desempenho garantiu a indicação, um ano depois, para dirigir a representação do Brasil nas Nações Unidas, em Nova York – cargo de relativo prestígio e em que a qualidade de bom negociador é necessária.

O carioca Machado, de 58 anos, é diplomata há 34 anos e é especialista em temas ambientais e desenvolvimento sustentável. Foi subsecretário do Itamaraty para Meio Ambiente, Energia, Ciência e Tecnologia entre 2011 e janeiro de 2013, quando foi nomeado para a missão na ONU.

Ele já havia servido nas Nações Unidas no início da carreira, entre 1986 e 1989.

Ele assumirá o Itamaraty sem nunca ter assumido uma embaixada do Brasil no exterior, o que pode ser visto como um problema – o próprio Patriota foi questionado, quando indicado, por ter sido apenas embaixador em Washington antes de se tornar chanceler.

Defesa

Em La Paz, oposição diz que ida do político para o Brasil foi legal

Agência O Globo

A oposição boliviana alegou ontem que a fuga do senador Roger Pinto Molina para o Brasil é legal. O líder da bancada opositora na Câmara dos Deputados, Adrián Oliva – do mesmo partido de Roger Pinto –, argumentou que o senador foi levado por um veículo diplomático e escoltado por soldados.

Segundo Oliva, a recepção do parlamentar boliviano pelo presidente da Comissão de Relações Exteriores do Brasil na cidade fronteiriça de Corumbá, no Mato Grosso do Sul, também daria legalidade ao processo.

Roger Pinto, do partido PPB-CN, estava asilado na embaixada brasileira na Bolívia havia mais de um ano, alegando perseguição política do governo Evo Morales.

"Foi legal porque o senador saiu em um veículo oficial, foi recebido por uma autoridade do mais alto escalão da política internacional no Brasil e não violou nenhum procedimento", afirmou Oliva à Rádio Panamericana, segundo o jornal Correo del Sur.

Parecer

Em junho deste ano, a Advocacia-Geral da União (AGU), a Procuradoria-Geral da República (PGR) e o Itamaraty se posicionaram contra a ajuda ao senador. As informações prestadas pelo secretário-geral do Ministério das Relações Exteriores, Eduardo dos Santos, estão inclusas nos pareceres e balizaram posicionamentos da AGU e da PGR encaminhados ao Supremo Tribunal Federal (STF) em uma ação apresentada pelo político boliviano.

No processo protocolado no dia 16 de maio no STF, a defesa do senador Pinto Molina questionou a atuação do governo brasileiro na resolução de seu caso e pediu um carro para deixar a Bolívia.

Use este espaço apenas para a comunicação de erros