O ex-presidente peruano Alberto Fujimori (1990-2000) agradeceu o indulto concedido pelo atual mandatário, Pedro Pablo Kuczynski, por meio de uma mensagem difundida em vídeo nesta terça-feira (26), nas redes sociais.
"A notícia do indulto humanitário que me outorgou PPK [como é conhecido] me surpreendeu nesta unidade de cuidados intensivos. Como compreenderão, isso me produziu um forte impacto, e tenho sentimentos misturados de extrema alegria e de pesar", afirmou.
Depois, explicou que "reconhece" que muitos compatriotas tenham se sentido traídos, e "a eles peço desculpas". E acrescentou que o passo dado por PPK é "complexo" e que se compromete a ajudar no "chamado à reconciliação" do país, que PPK fez em uma intervenção em cadeia nacional na noite de segunda-feira (25).
O mal-estar entre antifujimoristas que vinham apoiando PPK apenas porque este lhes havia prometido que jamais concederia o indulto a Fujimori, condenado a 25 anos de cadeia por abusos aos direitos humanos e crimes de corrupção, apenas aumentou nos últimos dias.
Já são três os deputados da já diminuta bancada governista, o Peruanos Por el Kambio, que retiraram seu apoio ao presidente: Alberto De Belaunde, Vicente Zeballos e Gino Costa, que vinha sendo um ardente defensor do presidente e um dos porta-vozes na defesa da derrubada do pedido de vacância do cargo, no último dia 21.
Por meio de sua conta nas redes sociais, Costa disse: "respeito a prerrogativa do presidente de conceder o indulto humanitário, mas não concordo com a maneira como foi feito. Lamento ter de anunciar que, nos próximos dias, anunciarei que vou formalizar minha saída do partido Peruanos Por el Kambio".
A saída dos três congressistas reduz a base de apoio de PPK no Congresso a 15 deputados, perdendo também o pouco apoio que tinha entre as duas agrupações de esquerda que antes compunham a Frente Ampla -de 20 deputados, 10 permaneceram na nova Frente Ampla e 10 compõem agora o Novo Peru, sob a liderança da ex candidata presidencial Verónika Mendoza, terceira colocada nas eleições de 2016.
Gabinete
PPK anunciou que haverá reuniões com ministros nos próximos dias e algumas mudanças devem ocorrer. Afinal, muitos haviam se posicionado contra o indulto e PPK havia se mostrado irritado com outros, que não o apoiaram em sua decisão. Seu chamado, na última cadeia nacional, foi o de compor um gabinete mais variado, incluindo outras forças políticas.
A situação de PPK, embora frágil, conta agora também com uma esquerda e um fujimorismo divididos. Trata-se de um Congresso em que já ninguém tem maioria -o fujimorismo tinha o controle até 21 de dezembro, até que nove deputados desobedeceram a presidente do partido, Keiko Fujimori, e votaram pela abstenção, a pedido do irmão desta, Kenji, também deputado. Assessores do presidente vêm aconselhando-o a aproveitar essa oportunidade e distribuir cargos no gabinete buscando um governo de coalizão.
O advogado que defendeu PPK no Congresso contra a acusação de envolvimento no escândalo de corrupção da construtora brasileira Odebrecht, Alberto Borea, também disse não concordar com o indulto.
"Como vocês, me surpreendi com a notícia, Sempre lutei e continuarei lutando contra a ditadura", disse Borea, afirmando que abandonaria a defesa de PPK no caso.
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