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Energia

Fukushima prepara operação de alto risco para retirar combustível nuclear

Técnicos inspecionaram tanques de água em setembro | Kyodo/Reuters
Técnicos inspecionaram tanques de água em setembro (Foto: Kyodo/Reuters)
Vista dos reatores em março: à direita o número 4, mais danificado após o terremoto |

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Vista dos reatores em março: à direita o número 4, mais danificado após o terremoto

Quase 32 meses se passaram desde que um terremoto seguido de tsunami atingiu o Japão e provocou um dos maiores desastres nucleares da história. O que pode parecer muito tempo é uma parcela ínfima do prazo de 40 anos estipulado para recuperação dos estragos na usina nuclear de Fukushima. Tanto que somente agora, no início de novembro, será iniciada uma etapa crucial desse processo. A retirada de combustível radioativo de um dos reatores é uma operação das mais delicadas e divide os cientistas. Enquanto alguns indicam a possibilidade de um desastre de proporções globais, outros não veem motivo para alarde.

A Tepco, empresa que opera a usina de Fukushima, estabeleceu em seu cronograma que pode começar na próxima sexta-feira a retirada de 1,5 mil varetas de combustível do reator 4, único que não estava em funcionamento. São 1,3 mil recipientes usados e 200 novos armazenados em uma piscina. A operação envolve riscos, visto que, caso as varetas se toquem ou deixem de ser resfriadas, pode haver uma explosão e um grande volume de radiação se espalhar. Os riscos aumentam pela condição em que se encontra o prédio do reator, avariado pelo terremoto.

Em artigo publicado no jornal The Huffington Post, o professor Charles Perrow, da Universidade de Yale, nos Estados Unidos, alerta que uma falha na remoção das varetas pode causar "uma reação nuclear incontrolável". Se não forem mantidas permanentemente resfriadas e separadas, elas liberariam grande quantidade de radiação e impediriam o resfriamento de outras 6,3 mil varetas dos outros reatores. "Isso causaria uma fissão e toda a humanidade seria ameaçada por milhares de anos", afirma. Na mesma linha, sites e blogs falam em consequências "apocalípticas" caso a operação dê errado.

Para Luís Antônio Albiac Ter­­remoto, pesquisador do Instituto de Pesquisas E­­nergéticas e Nucleares (Ipen), a possibilidade de um grande desastre nuclear não passa de alarmismo. De acordo com Terremoto (o sobrenome é uma coincidência para um especialista que fala sobre Fukushima), um estudo do laboratório Oak Ridge, nos EUA, apontou que a piscina do reator 4 está em boas condições. "As imagens do local mostram que a condição geral é boa. Por isso, a remoção seguirá um processo padrão e não deve apresentar maiores riscos", garante.

Já o professor Joaquim Francisco de Carvalho, do Instituto de Energia e Ambiente da Universidade de São Paulo, vê o procedimento com mais cautela. "Há muitos riscos, mas o mais grave é o de que diversas barras de combustível se juntem num espaço reduzido. Se isso acontecer, produtos de fissão poderão acumular-se em massa crítica, provocando uma explosão que espalhará elementos altamente radioativos", adverte.

Desativação do complexo vai levar 40 anos

A retirada das varetas de combustível do reator 4 é apenas o início de um processo que deve se estender por décadas, conforme o cronograma definido pela Tepco e pelo governo japonês para desativação completa do complexo nuclear de Fukushima. De acordo com o calendário, a desmontagem total da usina, juntamente com a descontaminação do solo e dos materiais, está programada para meados de 2051, 40 anos depois do acidente.

A remoção das varetas de combustível do reator 4 deve durar em torno de um ano, visto que a previsão para sua conclusão é no final de 2014. Ainda assim, alguns técnicos acreditam que, se as condições forem favoráveis, é possível efetuar os trabalhos em um prazo menor.

"É um procedimento que exige cuidados especiais, já que envolve material altamente radioativo. Ele deverá ser colocado em contêineres blindados, para evitar que a radiação escape. Posteriormente, esses contêineres ficarão confinados", explica Luis Antônio Albiac Terremoto, pesquisador do Ipen.

Reatores

Outra etapa delicada está agendada para 2021, dez anos depois do acidente: a remoção do combustível nuclear nos reatores 1, 2 e 3. "É um desafio porque esses reatores estavam em funcionamento e há material derretido", observa Albiac.

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