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Homem ao lado de morteiro que não explodiu em Falluja, cidade iraquiana ocupada por grupo ligado à Al-Qaeda | Stringer/Reuters
Homem ao lado de morteiro que não explodiu em Falluja, cidade iraquiana ocupada por grupo ligado à Al-Qaeda| Foto: Stringer/Reuters

Interesses

Organização busca o fortalecimento de suas ideologias, diz analista

Para alguns analistas, o objetivo da Al-Qaeda não é fundar um estado islâmico. É o caso da professora universitária e advogada Francielli Morêz, para quem a organização tem outros interesses.

"A Al-Qaeda busca o fortalecimento das ideologias que creem ser as essências de uma política islâmica livre das intervenções ocidentais, inclusive através do uso da força, fato que a maioria dos muçulmanos e das próprias doutrinas islâmicas tradicionais rechaçam terminantemente", afirma a professora.

Para Francielli, a operação da Al-Qaeda mostra-se muito mais eficaz quando a atuação ocorre de forma simultânea, em territórios distintos, nos quais os adeptos ao islamismo são maioria ou têm representação expressiva, onde o contexto social e político apresenta quadros severos de vulnerabilidade.

Para ela, isso não ocorre em um único estado formalmente constituído cuja atuação se sujeitaria às regras do Direito Internacional.

Expansão

O ministro das Relações Exteriores do Iraque, Hoshyar Zebari, advertiu na última sexta-feira sobre o perigo que a expansão de grupos relacionados com a Al-Qaeda, que combatem na Síria, acabe afetando os países vizinhos, como já ocorre com o Iraque. "É impossível conter o conflito dentro das fronteiras da Síria: nós já estamos sofrendo a expansão de grupos terroristas", disse o ministro.

Criado na década de 1980, o movimento paramilitar Al-Qaeda ganhou notoriedade em 2001, após o atentado que derrubou as torres gêmeas em Nova York no fatídico 11 de setembro. Desde então, a organização começou a espalhar diversas microcélulas terroristas pelo mundo e ultimamente tem recrudescido a presença na Síria e no Iraque.

No Iraque, as ações retomam a estratégia usada por outro grupo extremista, o Taleban, em sua atuação no Afeganistão. Cunhada pelo radicalismo extremo, sua pretensão pode estar travestida pela fundação de um estado islâmico.

No início do mês, o grupo extremista Estado Islâmico do Iraque e do Levante, braço da Al-Qaeda que também combate na guerra da Síria, passou a controlar a cidade de Falluja, 60 quilômetros a oeste da capital Bagdá. A cidade é de maioria sunita, embora o governo iraquiano hoje seja liderado pelo primeiro-ministro xiita Nouri al-Maliki.

Para alguns analistas, a Al-Qaeda quer fundar um estado islâmico no Iraque. Especialista em Cooperação Internacional pela Universidade de Beirute, Fátima Ali Kalout diz que o objetivo da organização terrorista é criar um Califado Islâmico (estado) governado por sua percepção da Shariaa (Lei Islâmica) para muçulmanos e não-mulçumanos. "Eles estão prestando, infelizmente, o maior desserviço para o mundo muçulmano. O islamismo não preconiza nem subscreve ações criminosas dessa dimensão", diz.

Professor de Relações Internacionais das Faculdades Rio Branco, Gunther Rudzit acredita que a Al-Qaeda quer um estado islâmico nos moldes do estabelecido no Afeganistão durante o governo Taleban. Apesar da pretensão, ele diz que dificilmente o grupo chegará a esse objetivo, pelo menos a partir do Iraque. "Por incrível que pareça, há a junção de Estados Unidos e Irã contra isso", explica.

Grupo possui microcélulas terroristas em vários países

Apesar de estar distribuída em várias microcélulas, é difícil definir com precisão os territórios de atuação da Al-Qaeda, principalmente porque o grupo age à margem da lei. Para Fátima Ali Kalout, a Al-Qaeda está presente hoje em mais de 30 países. Para isso, possui seis redes regionais e afiliações com mais de 14 grupos terroristas.

Atualmente, a organização está representada por braços como Jabhat Al Nusra, Fronte Islâmico, o Estado Islâmico do Iraque e do Levante, entre outros espalhados por diversos países árabes e muçulmanos. Grupo radical islâmico sunita, a Al-Qaeda combate os xiitas, principalmente o governo iraniano. A divergência vem da época em que o Irã enfrentou o grupo no Afeganistão.

Dominado pelos xiitas, o governo do Iraque colocou os sunitas em uma posição de inferioridade, sem poder participar das decisões. "A estratégia fez com que os sunitas se rebelassem e abrissem espaço para a Al-Qaeda, que tenta se restabelecer no Iraque", diz o professor Gunther Rudzit.

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