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Fim de uma era

Fundação Ford, que financia progressismo ao redor do mundo, dá fim a programa acadêmico

Fundação Ford
Placa na entrada do prédio da Fundação Ford em Manhattan, Nova York. (Foto: Bigstock / travelview)

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Depois de mais de 60 anos de vigência do seu programa de bolsas para acadêmicos individuais, a Fundação Ford, famosa financiadora de pensamento político progressista ao redor do mundo, encerrará o programa, como anunciou em seu site na última sexta (16) em texto do presidente Darren Walker.

A decisão vem dez anos após o início do último programa "Ford Fellowship", iniciado em 2012, que envolveu um investimento de 100 milhões de dólares. O programa financiou mais de seis mil acadêmicos desde 1967, segundo Walker. O encerramento será gradativo, com conclusão prevista para 2028.

O economista americano e repórter Chris Brunet acompanha há um ano os desenvolvimentos internos da Fundação Ford em meio à ascensão do identitarismo. Em publicação própria, ele diz que a decisão é estranha pois a fundação não está passando por dificuldades financeiras. "Nenhum motivo concreto foi dado. Só acenos vagos", comenta.

Há um ano, Brunet foi responsável por um furo de reportagem de grande repercussão que usou e-mails vazados por um delator a respeito de viés político dentro da organização filantrópica. "Muitos dos acadêmicos da Fundação Ford são comunistas declarados, e é comum ver nas assinaturas de e-mail deles citações de Che Guevara e Angela Davis", escreveu o repórter na época. "Apoio a regimes como Venezuela, Palestina e Cuba são a norma".

A informação é importante pois a Fundação Ford desfruta de incentivos fiscais dados apenas a organizações não-governamentais que sejam politicamente neutras nos Estados Unidos.

Nos e-mails, os acadêmicos financiados pela Ford diziam coisas como "rejeito essas invocações neoliberais de 'diálogo' e 'entender o outro lado'", "por que deveríamos ouvir pessoas com ponto de vista opostos?", e chamavam por censura com argumentos típicos de ativistas identitários.

No Brasil, entre 2006 e 2018, a Fundação Ford doou 65 milhões de dólares para ativistas, acadêmicos e organizações não-governamentais. 33,6 milhões desse montante foram para questões de direitos humanos e segurança de forma geral ("ativismo genérico"), o restante foi em ambientalismo e pautas identitárias.

Como a Fundação Ford virou financiadora do identitarismo

A organização filantrópica americana foi estabelecida por Henry Ford e seu filho Edsel em 1936. A missão era financiar ciência, educação e caridade. Com a morte dos dois fundadores em 1947, houve um aporte adicional de recursos da fabricante de veículos Ford Motor graças a Henry Ford II, filho de Edsel. A fundação mais tarde vendeu suas ações da Ford Motor e deixou de ter relação com ela na década de 1970.

No livro Uma Gota de Sangue (Editora Contexto, 2009), o sociólogo e doutor em geografia humana Demétrio Magnoli conta que a Fundação Ford começou a flertar com o que hoje chamamos de identitarismo após a crise política da Guerra do Vietnã. Começou com um "multiculturalismo" de "movimentos específicos, delineados em função do interesse de cada minoria", conta Magnoli.

A Fundação Ford então criou fundos voltados para defesa legal de mexicanos-americanos, porto-riquenhos, povos indígenas e mulheres. Os dirigentes eram ativistas ligados à organização. "Todas as organizações criadas nessas bases engajaram-se na promoção das políticas de discriminação reversa, funcionando como grupos de pressão profissionalizados", escreveu o sociólogo.

O resultado foi que, em vez de dar foco principal a questões envolvendo ciência, educação e caridade, a Fundação Ford tornou-se um gigante por trás de movimentos de política identitária balcanizados "acalentando mágoas e reivindicando direitos", nas palavras do comentarista liberal conservador George Will.

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