Washington - O historiador neoconservador Robert Kagan, membro do think tank Carnegie Endowment for International Peace, colunista do jornal The Washington Post e ex-assessor do candidato derrotado a presidente, o republicano John McCain, acaba de lançar no Brasil seu mais recente livro, "O retorno da História e o fim dos sonhos", defendendo a tese de que o ideal de um mundo globalizado e povoado de nações unidas por interesses comuns nunca esteve tão longe. Segundo ele, o novo presidente dos EUA, Barack Obama, será muito mais intervencionista do que se imagina.
Agência O Globo Qual o legado deixado pelo presidente Bush?
Robert Kagan Eu vou responder como aquele dirigente chinês, acho que o premier Zhou Enlai, quando perguntado sobre o que achava da Revolução Francesa: "Acho que ainda é cedo para avaliar." É certo que o governo Bush cometeu muitos erros, muitos integrantes de seu governo foram incompetentes e eu mesmo critiquei o governo, mas do ponto de vista americano, sua reação após os atentados de setembro de 2001 foram na direção certa e evitaram novos atentados terroristas nos EUA desde então.
Mas outros países sofreram atentados, como a Espanha ou a Indonésia.
Correto, mas nenhum outro atentado daquelas proporções voltou a ocorrer nos EUA e muitos previam novos ataques em questão de meses. Acho que este é um desafio que o presidente Obama terá: em termos de segurança, manter o país livre do terror como fez Bush. Muitos criticam o governo republicano dizendo que Bush lidou mal com este ou aquele problema e que Obama vai herdar estes problemas, mas a verdade é que os problemas já existiam e só não foram resolvidos porque são sérios e grandes demais.
Um governo Obama tende a ser mais multilateral e gregário que um governo Bush?
Eu não acho que o governo Bush seja assim tão unilateral, da mesma forma como não acho que o governo Obama será totalmente multilateral. Obama já mudou o seu discurso da época da campanha para agora e já admite que não é possível retirar as tropas do Iraque imediatamente, por exemplo. Da mesma forma, ele já disse que os EUA devem continuar liderando o mundo e não apenas através da deposição de ditadores e sua substituição por urnas. Obama prega que os EUA ajudem os países a serem democracias fortes com imprensa e Justiça independentes! O fato é que é fácil ver as pessoas lindas antes de elas ocuparem o governo. Depois da posse, Obama vai perceber que os problemas para os quais tinha soluções tão fáceis são bem maiores e mais complexos do que suas pretensões o faziam crer. E é nesta hora que as pessoas se revelam.
O senhor diz em seu livro que a ideia de um mundo globalizado é cada vez mais distante e que o planeta encara uma nova realidade de países que cultivam antigos ideais nacionalistas que lembram a formação dos Estados-nação do século XIX. O senhor se refere a países emergentes, como Rússia e China?
O mundo está cada vez mais dividido entre democracias e autocracias e a competição advinda da emergência de certas autocracias, como Rússia e China, que buscam um passado de glórias estimulado por um nacionalismo exacerbado, pode ser bem mais problemática do que, por exemplo, o fundamentalismo islâmico. Este sempre existiu, cresceu, mas acabou tendo que ser sufocado depois dos atentados de setembro de 2001. Vai continuar aí, mas menos danoso do que países que tentam se exibir como potências à custa de modelos autoritários, como Rússia, China e alguns países árabes. Obama terá que ter uma política para estes países.
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