O Brasil anunciou seus primeiros projetos de um novo fundo com financiamento estrangeiro para ajudar a proteger a Amazônia e combater a mudança climática, dias antes do início da conferência climática da ONU em Copenhague.
O Brasil criou o Fundo Amazônia no ano passado a fim de promover o desenvolvimento sustentável e a pesquisa científica na maior floresta tropical do mundo.
A Noruega prometeu 1 bilhão de dólares para o fundo até 2015, e a Alemanha se comprometeu com 18 milhões de euros (26,8 milhões de dólares).
Os três primeiros beneficiários serão a entidade ambientalista norte-americana The Nature Conservancy, o governo do estado de Amazonas e o instituto de pesquisas Imazon, de Belém, segundo nota divulgada na noite de quinta-feira pelo Ministério do Meio Ambiente.
A Nature Conservancy, em parceria com outros grupos, receberá 16 milhões de reais para regenerar áreas degradadas e promover outras práticas em prol do meio ambiente no Mato Grosso.
O Imazon receberá 12 milhões de reais para monitorar títulos fundiários e promover práticas sustentáveis entre fazendeiros e madeireiros do Pará.
O governo do Amazonas receberá 20 milhões de reais para pagamentos a seringueiros e aos chamados "povos da floresta" por serviços que ajudem a proteger e regenerar a Amazônia.
Outros três beneficiários serão anunciados pelo governo durante a conferência da ONU na semana que vem em Copenhague.
O Brasil, que quer ter voz de liderança nas questões climáticas, pretende demonstrar seriedade no cumprimento de sua ambiciosa meta de reduzir suas emissões de gases-estufa em 20 por cento em relação aos níveis de 2005.
Também quer mostrar a possíveis patrocinadores que o fundo funciona. Inicialmente, muitos países relutaram em contribuir com um fundo no qual não tivessem direito a opinar.
Na época em que o fundo foi lançado, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse que o mundo teria de respeitar a soberania do Brasil sobre seu território amazônico, cuja destruição é a principal fonte de emissões brasileiras de gases que provocam o efeito estufa.
Burocracia
O anúncio desta semana ocorreu após sucessivos atrasos, atribuídos por conselheiros do fundo à burocracia e à inexperiência em lidar com as finanças ambientais.
O fundo é administrado pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), com a participação de um conselho consultivo formado por representantes dos governos federal e estaduais, de empresas e da sociedade civil.
"O BNDES não está acostumado a trabalhar com fundos não-reembolsáveis ou com verbas para projetos ambientais", disse Paulo Moutinho, membro da comissão técnica do fundo.
O representante de uma organização que se candidatou às verbas disse que o BNDES está aplicando regras adequadas para empréstimos corporativos, e não para ONGs.
O governo alemão prometeu 4 milhões de euros em assistência técnica para ajudar o BNDES a administrar o fundo.
Alguns analistas dizem que o fundo pode ter dificuldade em sobreviver se confiar apenas em doações e deveria considerar vender os créditos de carbono em troca de projetos de conservação ambiental.