Mais de 10 mil turcos ocuparam ruas da maior cidade da Turquia na terça-feira para o funeral do editor de origem armênia Hrant Dink, cujo assassinato acirrou o debate sobre a militância nacionalista no país.
Desde o começo da manhã, as pessoas começaram a se reunir em frente à sede do jornal Argos, onde Dink foi assassinado na sexta-feira passada, em plena luz do dia. Alguns dos participantes do funeral levavam cartazes com dizeres como ''Somos todos Hrant Dink'' e "Somos todos armênios''.
O editor será enterrado num cemitério armênio de Istambul.
Grande parte do centro da cidade ficou fechada ao tráfego. Pombas brancas foram soltas ao som de uma música fúnebre.
Ogun Samast, 17 anos, confessou ter matado Dink por ''insultos'' aos turcos. Seis outras pessoas, inclusive um amigo de Samast, foram detidos e estão sendo interrogados.
Como muitos outros intelectuais turcos, Dink era criticado por nacionalistas, inclusive por alguns políticos, para os quais o editor ameaçava a segurança e a honra nacionais ao defender que a Turquia deveria encarar o papel que teve no genocídio de armênios em 1915.
O editor buscava a reconciliação entre os muçulmanos turcos e os cristãos armênios, após décadas de animosidade, e seu assassinato chocou a Turquia, despertando muitas dúvidas sobre a tolerância às minorias e a liberdade de expressão no país.
Jornais disseram que o crime pode levar a uma aproximação política entre a Turquia e a vizinha Armênia. Os dois países romperam relações diplomáticas em 1993, devido a uma disputa territorial.
Autoridades armênias e representantes de comunidades armênias mundo afora foram convidados para o funeral de Dink.
A Turquia se tornou um país mais aberto e liberal nos últimos anos, graças a reformas destinadas a levar o país para a União Européia. Mas o massacre da população armênia durante o colapso do Império Otomano, no início do século 20, ainda é um assunto muito sensível.
Os turcos rejeitam as avaliações históricas de que 1,5 milhão de armênios teriam sido vítimas de um genocídio sistemático dos governantes otomanos. O país diz que muitos muçulmanos de origem turca também faleceram.
Mas, para desgosto de Ancara, muitos Parlamentos estrangeiros aprovaram leis reconhecendo os massacres como um genocídio.
Dink, como dezenas de outros intelectuais, foi perseguido por suas opiniões a respeito do tema. Seu assassinato ampliou a pressão para que o governo, pró-UE, revogue uma polêmica lei usada contra Dink e outros para reprimir a liberdade de expressão.