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George Floyd foi celebrado por familiares, amigos e políticos que atenderam ao funeral dele nesta terça-feira (9), em uma igreja em Houston, cidade onde nasceu. A cerimônia foi transmitida pela internet e por vários canais de televisão nos Estados Unidos, permitindo que milhões de pessoas que se sensibilizaram com o assassinato de Floyd ao redor do mundo também assistissem às homenagens.
Floyd foi lembrado por seus familiares como uma pessoa amorosa e com uma personalidade "maior que a vida". O irmão mais velho dele, Philonise, chorando, disse aos presentes: "George era meu super-homem pessoal".
O reverendo Al Sharpton afirmou que Floyd foi um irmão comum que cresceu em um projeto habitacional, mas deixou um legado de grandeza, apesar das rejeições nos empregos e esportes que o impediram de alcançar tudo o que ele pretendia se tornar, segundo relatou a Reuters.
"Deus pegou a pedra rejeitada e fez dele a pedra angular de um movimento que mudaria o mundo inteiro", disse Sharpton, citando uma parábola bíblica do Novo Testamento.
George Floyd, um cidadão negro de 46 anos, morreu em uma abordagem policial, suspeito de tentar passar uma nota falsificada de US$ 20 dólares em uma loja de conveniências em Minneapolis. O policial que atendeu à ocorrência, Derek Chauvin, o algemou, o colocou deitado de bruços no asfalto e pressionou o joelho sobre o pescoço de Floyd por mais de oito minutos, apesar dos protestos de Floyd e das pessoas que passavam pelo local. Floyd morreu logo em seguida.
A cena, gravada em vídeo e reproduzida nas redes sociais, chocou o mundo, despertando protestos globais contra o racismo e a brutalidade da polícia.
Após as homenagens, o corpo de Floyd foi enterrado em um cemitério de Pearland, no Texas, ao lado da mãe dele, em uma cerimônia privada.
Caráter eleitoral
O funeral de Floyd também teve um forte caráter eleitoral. A cerimônia contou com uma mensagem de vídeo de Joe Biden, candidato democrata à presidência dos EUA. "Não podemos ignorar o racismo que está impregnado na nossa alma, o abuso sistemático que ainda flagela a vida americana", disse Biden.
Biden, que permanece recluso em sua casa em Wilmington, no Estado de Delaware, também mandou uma mensagem para Gianna, filha de seis anos de Floyd. "Sei que você tem muitas perguntas, querida", disse o democrata. "Sei que nenhuma criança deveria ter de fazer as perguntas que muitas crianças negras fazem há gerações. Mas não podemos fugir".
O ex-vice-presidente dos EUA teve a vida marcada por tragédias pessoais: sua primeira mulher Neilia e sua filha Naomi morreram em um acidente de carro em 1972, logo após ele ser eleito para seu primeiro mandato de senador. Em 2015, seu filho Beau morreu de câncer no cérebro.
Uma pesquisa do instituto SSRS, divulgada pela CNN na segunda-feira, mostrou que 42% dos americanos agora consideram a questão racial como importante na hora de votar em novembro - à frente da pandemia (31%), do sistema de saúde (39%) e da economia (40%). A pesquisa também indica que 8 em cada 10 americanos acham os protestos justificáveis.
Na mesma sondagem, a aprovação do presidente e candidato à reeleição, Donald Trump, caiu 7 pontos porcentuais, de 45%, em maio, para 38%, em junho - a reprovação subiu de 51% para 57%, no mesmo período. A entrada da questão racial na campanha explica, em parte, a liderança de Biden, que era de 5 pontos porcentuais (51% a 46%) no mês passado e subiu para 14 pontos porcentuais (55% a 41%).
Pressionado até por alguns aliados para tentar adotar um tom mais conciliatório, Trump virou alvo no funeral. Uma das críticas mais duras veio da sobrinha de Floyd, Brooke Williams, que questionou se algum dia os EUA foram realmente "grandes" - uma referência ao slogan de campanha de Trump, "Make America Great Again".
Trump também foi criticado pelo reverendo Sharpton, que o acusou de estar mais interessado em conter os protestos, colocando vidas em risco, do que em acabar com a violência policial. "Vocês têm o voto", disse o reverendo. Mais cedo, o pastor William Lawson afirmou que a morte de Floyd iniciou um movimento global, mas que antes era necessário "limpar a Casa Branca".
Mas mesmo após ser aconselhado a moderar o tom, Trump ainda não deu sinais de que amenizará o discurso. Nesta terça-feira, ele defendeu a tese de que um idoso ferido pela polícia de Buffalo, no Estado de Nova York, na semana passada, pode ter encenado o episódio. Martin Gugino, de 75 anos, foi empurrado por policiais e se feriu na queda.
As cenas foram gravadas e causaram uma onda de indignação, pois a versão oficial era de que Gugino havia "tropeçado". Dois policiais foram suspensos e, em represália à punição, 57 agentes pediram demissão, criando uma crise na polícia da cidade. "O manifestante de Buffalo pode ser um provocador da antifa", escreveu Trump no Twitter, referindo-se ao movimento antifascista que ele acusa de fomentar a violência nos EUA.