NOVIDADE| Foto: Mauro Campos

Curitiba – No início deste mês, quando o furacão Felix atingiu a categoria 5 – a mais forte na escala Saffir Simpson –, a temporada de furacões 2007 entrou para a história como uma das poucas a produzir dois furacões de nível máximo (em agosto, o furacão Dean também atingiu a categoria 5). Apenas os anos de 1960, 1961 e 2005 tiveram desempenho igual. A concentração de gases de efeito estufa na atmosfera – e o conseqüente fenômeno do aquecimento global – pode estar por trás de furacões mais fortes e devastadores?

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Segundo especialistas, não existem dados suficientes hoje para sustentar a tese da ligação entre os dois fenômenos. Tampouco há como negá-la. "O clima tem muitas variáveis. Tivemos um ano ativo de furacões em 2005, mas que não se repetiu em 2006, como era esperado. Hoje, não há como provar que o aquecimento global esteja provocando furacões mais fortes. Mas as projeções dos modelos de mudanças climáticas para o final do século 21 mostram que os furacões serão mais intensos. Há um motivo: um planeta muito quente precisa perder energia. E uma forma de perder energia é pelos furacões", diz o climatologista e pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), José Marengo.

A formação e o crescimento de um furacão, também chamado de tufão ou ciclone tropical, depende de uma série de condições atmosféricas agindo ao mesmo tempo num mesmo local. Um dos fatores principais é a temperatura das águas do oceano. Por isso o fenômeno é raro no Brasil, onde as águas são mais frias, e comum nos trópicos e durante a época em que as águas estão quentes – no Atlântico Norte, entre junho e novembro (veja no gráfico ao lado a incidência de furacões mês a mês).

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"A temperatura da água dos oceanos precisa estar acima dos 26ºC para a formação de um furacão. A evaporação dessa região quente é mais forte do que na região ao redor e isso provoca a formação de grandes nuvens. Com isso, a pressão do ar torna-se mais baixa e, com a ajuda do movimento de rotação da Terra, cria-se uma situação propícia para o ar ao redor se deslocar para o centro do furacão. Enquanto fica sobre o oceano, o furacão vai se auto-alimentando com o processo e ganhando força. É só quando ele atinge o continente, uma superfície seca, que vai perder o ritmo", explica a pesquisadora do Centro de Pesquisas Meteorológicas e Climáticas Aplicadas à Agricultura (Cepagri), da Unicamp, Ana Ávila.

Com o aumento da temperatura das águas, a lógica é que a força dos furacões também aumente. O professor de Ciências Atmosféricas do Massachusetts Institute of Technology (MIT) Kerry Emanuel criou um modelo para medir a força das tempestades. Segundo seu estudo, a intensidade dos furacões deve crescer 5% a cada aumento de 1ºC na temperatura da superfície do mar.

A pergunta que os cientistas querem responder é se o aquecimento global está de fato provocando um aumento na temperatura das águas do oceano ou se isso é parte de um ciclo natural da Terra. E essa resposta eles ainda não possuem.

Outro fator de discórdia é a destruição provocada pelos furacões atuais. Enquanto alguns vêem o crescimento no número de vítimas de tempestades um indicativo de que a intensidade do fenômeno está aumentando, outros defendem que cada vez mais pessoas estão morando em áreas de risco de furacão. Ou seja, os furacões estão provocando maior dano porque há mais para danificar.