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Oriente Médio

Fúria contra filme anti-islâmico esconde disputa árabe por poder

Marcão vibra após marcar diante do Ceará | Daniel Castellano/ Gazeta do Povo
Marcão vibra após marcar diante do Ceará (Foto: Daniel Castellano/ Gazeta do Povo)

As revoltas islâmicas que proliferaram rápido por 25­­­­ países do mundo foram descritas como uma rea­­ção­­ ao filme A Inocência dos­­ Mu­­çul­­manos, produzido nos­­ EUA e veiculado pelo YouTube.

O mesmo se disse a respeito da investida contra o consulado americano em Benghazi, na Líbia, que ter­­minou com a morte do embaixador J. Christopher Ste­­vens, no dia 11 de setembro – uma data que não deve ter sido coincidência. Na sexta-feira, depois de alguma investigação (e um tanto de hesitação), o governo americano passou a usar "ataque terrorista" para se referir ao evento.

De acordo com analistas, responsabilizar o vídeo pelas revoltas seria ingênuo e também perigoso. "O vídeo é apenas uma desculpa para justificar uma intolerância, para achar um culpado externo para os problemas, para fortalecer o sentimento antiamericano", diz Heni Ozi Cukier, cientista político e professor de Relações Internacionais na Escola Su­­perior de Propaganda e Mar­­keting (ESPM), em entrevista por telefone.

Por trás das manifestações dos últimos dias, estão "grupos e pessoas com projetos pessoais de poder".

"O que estamos vendo se desenrolar no Oriente Médio pós-Primavera Árabe é o tipo de luta pelo poder que frequentemente acontece após uma revolução", afirma Ross Douthat em texto no New York Times. Nessa lógica, é significativo que as revoltas tenham ganhado corpo nos países da Primavera Árabe, onde o poder está em jogo. "As revoltas não têm as dimensões que parecem ter. São grupos de 500 a 2 mil pessoas que estão sendo reprimidos pelos governos", diz o professor Andrew Traumann, do Centro Uni­­ver­­sitário Curitiba – Uni­­Curitiba. E continua: "é evidente que as pessoas se ofenderam [com o filme], que se sentiram insultadas, mas a raiva delas está sendo manipulada".

Cukier faz um paralelo esclarecedor: os muçulmanos não toleram críticas a Maomé, mas, no Egito, uma das tevês locais produziu um seriado que adapta Os Protocolos dos Sábios do Sião, texto do século 19 que serve de alicerce ao antissemitismo. A série, chamada Cavalo sem Cavaleiro, será exibida por vários canais árabes, com um público telespectador estimado em dezenas de milhões de pessoas.

"Os relativistas costumam dizer que [um país árabe como o Egito] está passando por um processo democrático. Mas alguns valores da democracia não são negociáveis", diz Cukier e cita a liberdade de expressão e a igualdade de direitos, ambas amplamente ignoradas no Oriente Médio. Basta ver como são tratadas as mulheres nesses países.

As revoltas estão focadas nos Estados Unidos e ignorar os motivos reais que inspiram a fúria de certos grupos islâmicos pode levar a uma guerra que implica Israel e, por consequência, os americanos. "Hoje, as multidões investem contra embaixadas. O próximo passo é marcharem para as fronteiras", diz Cukier.

Para evitar o pior, o presidente Barack Obama, dos EUA, teria de dar sinais claros de que certos valores democráticos são inegociáveis. "Ele é tímido, refém do politicamente correto, refém de uma manipulação bem rasa [dos grupos árabes interessados no poder]", diz o analista.

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