Moradora de Mokhovoye, pequena cidade a 130 km de Moscou, tenta se proteger da fumaça: incêndios arrasaram várias regiões do país| Foto: Andrey Smirnov/AFP
Inundação em Muzaffargarh, na região central do Paquistão: país tem mais de 14 milhões de desabrigados
Veja algumas tragédias naturais ocorridas nos últimos meses

Uma onda de desastres naturais está marcando o verão no Hemisfério Norte neste ano. Países europeus e asiáticos sofrem com o excesso de chuvas e com o alarmante aumento das temperaturas. Na Rússia, o calor excessivo provocou incêndios florestais em diversos pontos do país nas últimas semanas. Já são mais de 600 focos identificados, sobretudo em regiões como a de Bryansk – cidade localizada no oeste russo, a quase 400 quilômetros de Moscou.

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Na China, as fortes chuvas causaram uma série de deslizamentos que levou à morte cerca de 1.254 pessoas, segundo dados apurados pelo governo chinês. Para se ter uma ideia da proporção do desastre, as chuvas que caíram sobre o noroeste do país, na última terça-feira, fizeram 36 mortos.

As tempestades em Longnan, na província de Gansu, deixaram cerca de 300 mil pessoas feridas e provocaram a evacuação de mais de 120 mil moradores por causa dos deslizamentos de terra e das cheias dos rios. Os bairros do distrito de Zhouqu, por exemplo, ficaram inundados por uma avalanche de lama. E as previsões meteorológicas alertam para a possibilidade de ain­­da mais chuva nos próximos dias para a região.

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Desde o fim do mês de julho, o Paquistão vem sendo castigado por grandes enchentes. O desastre, que já é considerado uma das maiores tragédias naturais da história do país, afetou 14 milhões de paquistaneses – segundo dados levantados pe­­lo governo local. Além de deixar milhões de desabrigados, as inundações também carregam o perigo da contaminação por várias doenças que podem ser transmitidas por meio das águas poluídas. A situação põe em risco a vida de 3,5 milhões de crianças, suscetíveis a diversas formas de contágio. Até agora, foram estimados de 1,2 a 1,4 mil mortos pelas enchentes no país.

Na Groenlândia, um imenso iceberg se desprendeu de uma geleira no norte do país. O enorme pedaço de gelo tem cerca de 260 km² de extensão e sua área é comparável a quatro vezes o tamanho da ilha de Manhattan. A última vez que um incidente desta magnitude ocorreu foi em 1962. O iceberg, batizado como "ilha de gelo", poderá atravessar as costas canadenses e alcançar o Atlântico nos próximos dois anos, calculam os cientistas que acompanham o caso.

Prováveis causas

Apesar do empenho dos cientistas e especialistas que acompanham o desenvolvimento das mu­­danças climáticas em todo o mundo, é difícil precisar se os últimos acontecimentos têm relação direta com o fenômeno conhecido como aquecimento global.

Para Carlos Rittl, coordenador do programa de Mudanças Climá­­ticas e Energia do WWF (Fundo Mundial da Natureza) Brasil, é preciso muita cautela quando se fala na relação entre as atuais ca­­tástrofes naturais e os efeitos do fenômeno conhecido como aquecimento global. "Todos esses re­­centes eventos correspondem àqui­­lo que os cientistas dizem que irá ocorrer num mundo assolado pelos efeitos do aquecimento global, mas essa relação direta requer uma maior investigação", analisa.

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Maria Assunção da Silva Dias, professora do Instituto de Astrono­­mia, Geofísica e Ciências Atmosfé­­ricas (IAG) e membro do grupo de estudos internacionais do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC) , chama a atenção para o fato de que cada vez que acontece um desastre na­­tural, os especialistas e a população tentam estabelecer uma relação entre essas tragédias e o aquecimento global. O relatório do IPCC de 2007, inclusive, já apontava a probabilidade de um aumento na frequência desses eventos. "Mas certeza absoluta a gente não pode dar", diz Dias.

A professora ainda destaca que, ao se olhar o clima das diversas regiões da Terra, é fácil perceber que esses lugares já passaram por diversos cenários, causados, na sua maior parte, por eventos climáticos extremos. "O clima da Terra não é estático, é dinâmico, e responde, por exemplo, à temperatura das águas dos oceanos. Quando eles mudam de padrão, há reflexos diretos no clima do nosso planeta", afirma. Para Dias, a questão essencial reside em aprendermos a separar o que é ciclo natural e o que é causado pe­­la ação humana. "A gente busca indícios e um dos indícios é essa alteração na frequência de eventos extremos", alerta Dias.