A Argentina vai "ficar no Grupo de Lima", disse Felipe Solá, escolhido para ser o ministro das Relações Exteriores do governo do kirchnerista Alberto Fernández, que toma posse em 10 de dezembro.
"Os objetivos devem ser muito maiores do que o você pensa sobre a Venezuela. Nós vamos ficar no grupo de Lima para ter um lugar para conversar. Não estou feliz com o que acontece, mas gostaria de uma nova unidade baseada em questões mais fortes do que apenas ideológicas", afirmou durante um seminário na Universidade Torcuato Di Tella, em Buenos Aires, segundo apuração do jornal argentino Clarín.
O Grupo de Lima é um bloco formado por Brasil e outros 11 países do continente para abordar a crise da Venezuela, reconhecido por adotar uma postura dura contra o governo do ditador Nicolás Maduro. Durante a campanha, Fernández disse que, se fosse eleito, a Argentina abandonaria a organização, que é apoiado pelos EUA. Em outubro, ele afirmou que seu país "deve ser parte do grupo de países que querem ajudar os venezuelanos a encontrar uma saída, e estar no Grupo de Lima é contraditório com isso". Já como presidente eleito, recebeu uma reunião do Grupo de Puebla, uma organização de caráter progressista de líderes de esquerda, que foi amplamente vista como anti-Grupo de Lima.
Ainda falando sobre a Venezuela, Solá disse que chegou ao fim a "etapa de Juan Guaidó", presidente interino da Venezuela reconhecido por mais de 50 países – inclusive pela Argentina. "Acho que temos que encontrar outra alternativa à crise venezuelana". Fernández já havia dito que seu governo não reconhecerá Guaidó como presidente da Venezuela.
O posicionamento em relação a Guaidó, porém, não é um endosso do novo governo argentino ao regime socialista que tem o poder de fato no país com as maiores reservas de petróleo do mundo. "Também queremos que haja eleições na Venezuela", declarou Solá.
Relação com o governo Bolsonaro
Na opinião do futuro chanceler argentino, é preciso "desideologizar a forma em que a Argentina olha e chega a cada país". "Você precisa desideologizar, ver o que nos convém como país além das simpatias ou antipatias". Essa postura deve ser adotada no relacionamento com o governo do Brasil, maior parceiro comercial da Argentina.
Após troca de farpas e deselegâncias diplomáticas entre o presidente Jair Bolsonaro e o futuro presidente da Argentina, inclusive a recusa de Bolsonaro em parabenizar Fernández pela vitória nas eleições de 27 de outubro, empresários argentinos ficaram receosos que as diferenças ideológicas pudessem causar uma deterioração na relação diplomática entre os países vizinhos e prejudicar os negócios. Nesta quinta-feira (28), o presidente da União Industrial da Argentina, Miguel Acevedo, pediu a Fernández, embora sem nomeá-lo, que diminua a tensão comercial com o Brasil, segundo o Clarín.
Sobre o governo Bolsonaro, o futuro chanceler argentino disse que vai evitar "ideologizar a relação". "Não vamos aceitar que o debate seja ideológico, até que se cansem. Vamos buscar todas as brechas possíveis e para isso é necessário a ação da sociedade civil junto ao Estado", incluindo empresários e até militares.
As declarações de Fernández, porém, não tem seguido essa cartilha. Em uma clara afronta a Bolsonaro, o presidente eleito e sua vice, Cristina Kirchner, foram ativistas pela soltura do ex-presidente petista Luiz Inácio Lula da Silva e comemoraram quando ele saiu da prisão.
Solá, em recentes entrevistas, também não poupou críticas ao governo Bolsonaro. Segundo reportagem do jornal O Globo, ele disse que o novo governo "está de luto em relação ao Brasil", já que é "absolutamente inesperado que um país irmão com o qual tivemos uma quantidade de encontros com bom impacto regional inesperadamente tenha um governo com um nível de agressividade enorme contra a Argentina, contra o Mercosul e contra a História comum dos últimos 30 anos".
O governo de Fernández pretende indicar o nome de Daniel Scioli, que perdeu a eleição para o presidente Maurício Macri em 2015, como embaixador da Argentina no Brasil, segundo informações da imprensa local. Felipe Solá disse, em entrevista ao Todo Noticias, que, se confirmado, Scioli "pode ser muito útil", já que é "um bom negociador" e "não tem uma certa mochila ideológica"
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