Rebeldes líbios disparam canhões Howitzer contra as poucas forças pró-Kadafi que ainda resistem no país, perto de Sirte| Foto: Asmaa Waghih/Reuters

Na última semana, o Conselho Nacional de Transição (CNT) anunciou que o governo interino da Líbia deve ser apresentado nos próximos dias e contará com 22 pastas ministeriais. As eleições gerais estão previstas para ocorrer daqui a 20 meses. Mas enquanto define a estrutura do novo governo, o CNT também precisa se preocupar com as marcas do antigo regime e fazer ataques duros para eliminar as últimas fortalezas.

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Para o vice-presidente do Ins­­tituto de Cultura Árabe, Mo­­ha­­med Habib, pró-reitor de extensão da Universidade de Campinas (Unicamp), as deliberações sobre a reestruturação da Líbia são um detalhe secundário. "O país ainda não está totalmente livre do regime de Kadafi. Ainda existem conflitos militares entre as forças de Kadafi e os revolucionários que deixam vítimas fatais diariamente".

De acordo com os pesquisadores que têm observado o conflito, a influência da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) foi decisiva para que Ka­­dafi fosse derrubado do poder. "Foi a intervenção ocidental que praticamente definiu os rumos dos rebeldes. Se não existisse a Otan, não existiria vitória rebelde e até hoje eles estariam lá tentando lutar e fatalmente teriam sido esmagados", diz Charles Pennaforte, diretor do Centro de Estudos em Geopolítica e Rela­­ções Internacionais (Cenegri), do Rio de Janeiro.

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Em março, o Conselho de Se­­gurança da ONU aprovou uma zona de exclusão aérea na Líbia que permitia o abate de aviões do então ditador líbio. Além disso, países da comunidade europeia forneceram armamentos para os rebeldes. O argumento é que todas as medidas visavam à proteção dos civis.

O professor Luiz Fernandes, do Instituto de Relações Inter­­na­­cionais da Pontifícia Univer­­sidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ) avalia que a Otan está extrapolando a resolução da ONU ao tomar partido no conflito e não impedir ações do CNT ao sitiar cidades dominadas por forças aliadas ao antigo regime de Kadafi. "A Otan deveria estar impedindo o ataque dessas forças rebeldes porque estão sitiando cidades, cortando abastecimento de água e luz, criando uma crise para a população", diz Fernandes.

Centenas de moradores estão fugindo de Sirte, umas das cidades em que forças pró-Kadafi re­­sistem devido à falta de alimento e energia elétrica. Alguns civis tiveram inclusive suas casas alvejadas. Na última sexta-feira, um comboio de famílias que saía da cidade foi atingido por granadas e foguetes antiaéreos.

Heterogêneo

Para derrubar o regime consolidado, havia unidade entre os re­­beldes, mas agora, que é preciso repensar a Líbia, as diferenças começam a aparecer. "São forças muito heterogêneas no Conselho Nacional de Transição. Basta lem­­brar o assassinato do comandan te militar dos rebeldes pouco an­­tes da entrada em Trípoli", observa Fernandes. Abdul Fattah You­­nes teria sido morto pelos próprios rebeldes. O professor Mo­­hamed destaca três desafios que o CNT precisa superar para conseguir estabilidade na Líbia: primeiro livrar-se totalmente dos resíduos do re­­gime de Kadafi que ainda estão no país; encontrar Kadafi e levá-lo a um tribunal pa­­ra ser julgado pelos crimes que cometeu du­­ran­­te os 42 anos no poder; e discutir a relação com os países da comunidade europeia que fi­­nanciaram a revolução.

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