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Uma sala de aula vazia na Venezuela: sob o regime de Nicolás Maduro, país sul-americano sofre com a falta de professores, com o alto índice de evasão escolar e com a deterioração das escolas
Uma sala de aula vazia na Venezuela: sob o regime de Nicolás Maduro, país sul-americano sofre com a falta de professores, com o alto índice de evasão escolar e com a deterioração das escolas| Foto: EFE/MIGUEL GUTIERREZ

A educação na Venezuela, que neste momento está atraindo a atenção internacional pela disputa que está travando por Essequibo, um território rico em recursos naturais que pertence à Guiana, enfrenta uma grave crise generalizada que ameaça o futuro das próximas gerações.

Sob o regime de Nicolás Maduro, o país sul-americano sofre com a falta de professores, que estão abandonando as salas de aulas por receberem salários cada vez mais baixos, que em muitos casos não passam de US$ 100 por mês (R$ 492), com o alto índice de evasão escolar e com a deterioração das infraestruturas dos prédios e complexos educacionais. Tais problemas tem afetado de forma significativa o sistema educacional venezuelano e foram agravados nos últimos anos pela falta de investimento do regime chavista.

A falta de pagamentos dignos e o desinteresse do regime venezuelano em respeitar os direitos dos professores, bem como a crise econômica, humanitária e a repressão, levaram também a uma migração massiva de profissionais da educação para países como Equador, Colômbia, México, Chile e até o Brasil, o que tem gerado uma escassez cada vez maior de profissionais no sistema de ensino público e uma queda no índice de qualidade da educação.

Uma pesquisa do Observatório da Educação da ONG Fundaredes, que defende os direitos humanos na Venezuela, divulgada em novembro deste ano, confirmou que os professores que ainda residem e trabalham na Venezuela enfrentam baixos salários, que não chegam a cobrir em muitos casos suas necessidades básicas como saúde, alimentação e transporte. Segundo a pesquisa, muitos deles têm que realizar outras atividades econômicas para complementar sua renda ou pensam em abandonar de vez sua profissão ou emigrar.

Além disso, a maioria dos professores que atuam no país tem mais de 50 anos, e até possuem um alto nível de instrução, mas não têm oportunidades de atualizar suas habilidades, nem um plano de formação contínua. O país também sofre com a falta de formação de novos docentes, já que muitas pessoas não querem atuar na área justamente pela precariedade e pelos baixos salários.

Uma outra pesquisa divulgada este ano pela Fundaredes mostrou que o regime chavista reduziu em 97,9% o orçamento de 72 instituições de ensino superior públicas nos últimos 11 anos, o que prejudicou a formação e a capacitação de novos profissionais, bem como o desenvolvimento de novos programas de extensão das universidades.

Organizações que monitoram a educação local, como a escola de Fe y Alegría da Venezuela, que oferta oportunidade de ensino para pessoas mais carentes, disseram que foi possível identificar nos últimos anos “deficiências graves” no processo de aprendizagem dos alunos venezuelanos, que incluem “baixos níveis de compreensão” e problemas para redigir um texto "de maneira coerente".

Uma pesquisa da associação civil Con La Escuela na Venezuela, que busca promover melhorias no sistema de ensino público do país, realizada em fevereiro com estudantes do ensino médio, revelou que 63% dos alunos venezuelanos que chegam nesta fase "tem fluência de leitura abaixo do padrão internacional". Além disso, 3,9% dos alunos “não foram capazes de compreender nenhuma das palavras de um texto adequado” para a sua série, o que indica que muitos deles chegaram ao ensino médio “sem estar completamente alfabetizados”.

Uma outra pesquisa realizada em abril pela associação Con La Escuela revelou que 22% dos estudantes venezuelanos faltam às aulas por terem que ir trabalhar para ajudar seus pais no sustento do lar. O estudo foi aplicado a uma amostra de 79 escolas em sete estados da Venezuela. A ONG de direitos humanos Caleidoscopio Humano afirmou em junho deste ano que a Venezuela sofre com altos índices de trabalho infantil, e que os dados sobre o real número de menores de idade que tem que trabalhar por causa da crise que o país enfrenta é difícil de coletar, já que o regime chavista oculta diversas informações que deveriam ser públicas.

O professor Oscar Iván Rose, que é coordenador da Con La Escuela, informou no site da associação que os professores que responderam a pesquisa disseram que as idades dos estudantes que trabalham e estudam estão entre 6 e 17 anos, sendo o intervalo mais frequente entre 15 e 17 anos e que há maior presença de meninas que trabalham: 41,5%.

“Estudar deveria ser uma tarefa de tempo integral para crianças e jovens entre 5 e 18 anos; no entanto, a realidade de nossas crianças e jovens é muito diferente”, disse o professor Rose.

A ONG Fe y Alegría estima que pelo menos 15% do total de estudantes venezuelanos que combinam o ensino médio com um curso técnico atualmente trabalham e estudam. A organização também apontou que existem algumas escolas na Venezuela que têm adequado os seus horários para não perder os estudantes que optam pelo trabalho. A Fe y Alegría afirmou que perdeu este ano cerca de 11 mil estudantes em seus 178 centros educacionais localizados em 19 estados do país.

O professor Rose da Con la Escuela acrescentou que “o trabalho não é o único motivo” que faz com que os estudantes deixem de ir à escola. A pesquisa da associação coordenada por ele também apontou que 44,15% dos professores consultados afirmam que seus alunos não assistem uma aula em uma escola venezuelana por causa da falha de algum serviço público básico, como água ou eletricidade. 85,6% dos professores disseram que a falta de água potável é o principal problema. O transporte também é um dos outros motivos para que ocorram as faltas, mas é de menor incidência, já que 98% dos estudantes se deslocam a pé às escolas.

A Con la Escuela também divulgou um relatório, veiculado este mês pelo site independente venezuelano Efecto Cocuyo, onde aponta que entre janeiro e julho deste ano, os estudantes que residem no país que vive sob o regime de Maduro tiveram apenas 3,89 dias de presença na sala de aula por semana em média, perdendo 22,3% do calendário escolar previsto para esse período. A Con la Escuela lembrou que a deterioração do sistema educacional do país vem de anos anteriores e é o resultado da falta de políticas públicas adequadas e da falta de investimento do Estado.

Além da falta de serviços básicos, as escolas públicas da Venezuela também sofrem com a escassez de materiais didáticos, equipamentos e mobília, como cadeiras e mesas. Muitas instituições estão em péssimo estado de conservação, com risco de desabamento, infiltrações e também sofrem com roubos e vandalismo.

Perseguição e desvalorização

Os professores venezuelanos não recebem nenhum reajuste no salário desde março de 2022. A resposta do regime à crise educacional do país tem sido a militarização das escolas, com a presença de agentes da Força Armada Nacional Bolivariana e da Polícia Nacional Bolivariana em várias instituições. O sindicato dos professores da Venezuela disse que essa ação está sendo colocada em prática pelo regime chavista como uma maneira de supervisionar as aulas dos professores e intimidar aqueles que tentam realizar protestos com reivindicações de melhorias.

Desde o ano passado, diversos professores estão realizando paralisações nos dias de aula para se manifestar por melhorias para a categoria e para o sistema de ensino público. Diversos profissionais da educação que estão aderindo à causa já denunciaram que estão recebendo ameaças e repressão por parte das autoridades do regime.

O ministro da Defesa do regime de Maduro, Vladimir Padrino López, disse que a presença dos militares nas escolas faz parte de um “programa de manutenção” das mesmas, e que tal programa já resultou na reparação de "17 mil escolas do país". No entanto, ele não apontou quais foram as escolas beneficiadas.

O sindicato dos professores disse que o regime de Maduro está tentando “impor sua ideologia e seu controle nas instituições de ensino do país”. Em setembro, Gerardo Márquez, um chavista aliado do regime de Maduro que é governador do estado de Trujillo, chegou a “exigir” em discursos que os diretores das escolas públicas do país fossem todos membros do partido da ditadura que controla a Venezuela, o PSUV.

“Todos devem ser membros ativos e militantes da revolução bolivariana! Chega de ter diretores de escolas da oposição! A partir de agora, todos serão chavistas!”, disse Márquez.

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