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Em Bali

G20 se reúne na Indonésia em momento de maior divisão interna da história do grupo

Policiais participam de treinamento de segurança em Bali, que receberá reunião de cúpula do G20 entre terça (15) e quarta-feira (16) (Foto: EFE/EPA/MADE NAGI)

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Criado em 1999 para ser um espaço para aumento da cooperação econômica entre os países com os maiores PIBs do mundo, o G20 terá sua reunião de cúpula em Bali, na Indonésia, entre terça (15) e quarta-feira (16), talvez no momento de maior fragmentação do grupo.

Se já havia ceticismo devido à falta de resultados das últimas reuniões, que foram além de questões econômicas e passaram a incluir outros temas, como mudanças climáticas, a perspectiva de alcançar grandes objetivos se tornou quase nula devido à guerra na Ucrânia, deflagrada pela invasão russa em fevereiro deste ano.

O G20 reúne as 19 maiores economias do mundo, mais a União Europeia, e o bloco europeu e os aliados americanos impuseram pesadas sanções a Moscou devido à agressão ao país vizinho. Por outro lado, China e Índia passaram a importar mais petróleo da Rússia, aliviando parte dos efeitos das respostas econômicas do Ocidente e aprofundando as rachaduras internas do G20.

A Indonésia, sede da cúpula deste ano, tentou aliviar essas tensões: o presidente Joko Widodo visitou tanto Kyiv quanto Moscou em junho e convidou o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, para participar da cúpula.

Entretanto, o governo da Ucrânia pediu a expulsão da Rússia do G20 e a retirada do convite ao presidente Vladimir Putin. A posição oficial da Indonésia é que não cabe à presidência temporária do G20 a decisão de expulsar membros do grupo – seria necessário um consenso entre os demais integrantes.

A poucos dias do início da cúpula, a Rússia deu fim a semanas de especulações e anunciou que Putin não irá a Bali – o país será representado pelo ministro das Relações Exteriores, Sergey Lavrov.

Os Estados Unidos também possuem diferenças profundas com outros dois integrantes do G20, a China e a Arábia Saudita. Com Pequim, as divergências antes restritas a disputas comerciais e cobranças sobre direitos humanos passaram também para a esfera militar, devido às ameaças da ditadura chinesa de invadir Taiwan, com quem os americanos possuem um compromisso de defesa (na segunda-feira, véspera da abertura da reunião do G20, Joe Biden terá sua primeira conversa presencial com o ditador Xi Jinping desde que assumiu a presidência americana).

Já a Arábia Saudita irritou Washington porque em outubro a Organização dos Países Produtores de Petróleo com acréscimo da Rússia (Opep+) decidiu cortar a produção mundial em 2 milhões de barris por dia, o que representa 2% do que é produzido em todo o mundo.

O governo Biden considera que, além de prejudicar o combate à inflação, a medida foi um aceno à Rússia, já que uma elevação dos valores do petróleo ajudaria na sua guerra contra a Ucrânia. Na prática, a Arábia Saudita lidera a Opep+.

Em entrevista à agência Reuters, a ministra das Relações Exteriores da Indonésia, Retno Marsudi, admitiu que os preparativos para a cúpula do G20 estão mais desafiadores do que os dos encontros dos últimos anos.

“A presidência da Indonésia talvez seja uma das ou talvez a mais difícil de todos os encontros do G20, por causa das questões geopolíticas, econômicas e outras”, afirmou.

Sem comunicados conjuntos

Este ano, o grupo não divulgou comunicados conjuntos em várias reuniões, incluindo a de ministros das Relações Exteriores realizada em julho.

Com esse passado recente e as divergências explicitadas de um ano para cá, a probabilidade de um documento desse tipo é improvável em Bali, mas Marsudi destacou que, mais importante do que haver um comunicado conjunto, é que ele tenha conteúdo.

“Seja qual for o nome que adote, conterá os compromissos políticos dos líderes. Para nós, é melhor nos concentrarmos no conteúdo. No final, o conteúdo fala mais”, argumentou.

Em comunicado divulgado no início de novembro, o Conselho dos Conselhos, composto por 28 grandes institutos de estudos de políticas públicas de vários países, destacou que a cúpula do G20 deve buscar três ações para que o grupo volte a ter credibilidade neste momento: buscar meios para que haja paz na Ucrânia; melhorar a coordenação das políticas monetárias dos seus membros; e tomar medidas significativas para ajudar o mundo em desenvolvimento.

“Os líderes do G20 devem restabelecer a imagem do fórum como um comitê de crise antes de discutir uma agenda de governança econômica global mais ambiciosa”, recomendou o conselho, em trecho do comunicado assinado por Ye Yu, vice-diretora do Instituto de Estudos da Economia Mundial e integrante dos Institutos de Estudos Internacionais de Xangai.

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