Heilingedamm A proposta de diálogo aberto e franco entre o grupo dos países mais influentes no cenário internacional, o G8, e as cinco principais economias emergentes África do Sul, Brasil, China, Índia e México converteu-se em engodo no balneário alemão de Heiligendamm, onde os agrupamentos encontraram-se ontem. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva saiu da reunião, ontem, visivelmente contrariado com o fato de o G8 ter ignorado as posições dos emergentes convidados e cravado compromisso sobre temas delicados ao mundo em desenvolvimento a liberação dos investimentos diretos, a reabertura das discussões sobre a quebra de patentes em casos de emergência de saúde pública e o compromisso de redução de emissão de gases poluentes.
O presidente anunciou, em entrevista à imprensa, que propôs para o próximo encontro, que se dará no Japão, em 2008, o "cuidado" de adotar uma nova metodologia. A fórmula sugerida por Lula é promover a discussão entre o G8 e os cinco emergentes antes do encontro reservado apenas aos oito grandes, para que possam refletir e analisar as posições de seus convidados.
"Eu propus que o G5 (os cinco emergentes) e outros países que forem convidados se reúnam antes com o G8, para dizermos o que pensamos antes. Para que, quando eles forem fazer a reunião (reservada) do G8, levem em conta a existência das nossas propostas."
Mais enfático, Lula declarou que o documento do G8 "levou muito em conta" a proposta do presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, sobre a questão da mudança de clima sem metas específicas e fora do sistema das Nações Unidas. Ainda teve um "agravante" a decisão de ignorar a posição do G5 sobre o assunto, que é totalmente oposta e que leva em consideração a responsabilidade maior das grandes economias na emissão de gases que provocam o efeito-estufa.
"Houve uma reunião, em Berlim, na qual não foram discutidas as questões que estão no documento do G8. (O texto) passa essa idéia que houve uma discussão e que houve concordância", assinalou o presidente. "Fiz questão de começar a reunião dizendo que não tinha havido esta discussão e que tinha coisas no documento do G8 com as quais não poderíamos concordar", acrescentou.
A irritação girou em torno das divergências com relação ao documento "Crescimento e Responsabilidade na Economia Mundial", redigido pelo G8 em Heiligendamm, e o comunicado final do encontro do G5, também concluído e divulgado anteontem, mas em Berlim. O texto do G8 defende a liberalização do ingresso de capitais produtivos, sobretudo nas economias em desenvolvimento, e a revisão de regras e mecanismos de maior controle sobre as patentes industriais e o combate à pirataria.
Tratam-se de temas caros para os países emergentes, sobretudo ao Brasil. O abrandamento de suas posições sobre esses temas significaria, do ponto de vista do Itamaraty, a diminuição da capacidade de o Estado adotar políticas públicas relacionadas ao desenvolvimento econômico.